sexta-feira, 2 de maio de 2008

Perdendo para si mesmo.

Senhores, na cinza e agourenta quinta-feira, feriado alusivo ao Dia do Trabalho, Rio Grande e Pelotas protagonizaram outro empate. Parece que os “velhinhos” saíram do vestiário acordados, decididos a empatar a partida em 1 a 1, e atestar que futebol de qualidade anda escasso na segundona gaúcha. “Na crônica anterior eu disse que ouviríamos o som de “caneladas” e cotoveladas”, modus vivendi de atletas que, de quando em quando também chutam a bola. Entretanto, parece que eles abusaram do mau gosto. Foi um jogo de causar sonolência em contumazes insones. Mais de uma vez senti vontade de estar num safári, diante de um hipopótamo desgovernado, e não assistindo aquela pobre partida de futebol, que de arte não tinha nada. Não culpo os jogadores, até por que eles querem jogar bonito, oferecendo às torcidas lances de tirar o fôlego, enchendo nossos olhos de mel. É que o adversário não deixa. Antes mesmo de o atleta dominar a bola e tentar imaginar-se um virtuoso, um bailarino, um trem desgovernado passa por cima dele, deixando-o reduzido a uma massa disforme no gramado. Foi assim desde os primeiros minutos da partida, dando idéia de que os jogadores corriam não atrás de uma bola, mas perseguiam ancestrais ossos com os quais iriam aplacar antediluviana fome. O primeiro tempo não saiu do esquálido zero a zero, imposto pela fúria dos zagueiros dos respectivos times, os quais bufavam e largavam fogo pelas ventas como dragões dos velhos Reinos da Britânia. No tempo final, os atacantes se impuseram à zaga, que talvez tenha cansado – ou fogo draconiano se amainara. O baixinho Igor, ex-Pelotas, quem sabe nutrindo velado ressentimento contra o time que o dispensara, fez o goleiro Cássio ir ao fundo da goleira e recolher a bola, expressão de quem engoliu um guarda-chuva aberto molhado de chuva ácida. Entretanto, respeitando o “acordo” dos “vovôs”, o Lobo da Avenida, através de Tiago Duarte – que no início do segundo tempo perdeu um gol que nem minha sogra perderia – aninhou a bola na rede, aumentando, por certo, a acidez estomacal do goleiro do Rio Grande. As torcidas pularam, cantaram, xingaram, desejaram comer o fígado de um e outro, mas de nada adiantou as manifestações de entusiasmo e raiva. O destino se cumprira: um gelado 1 a l, forçando o áureo-cerúleo a passar por cima do Riograndense, de Santa Maria, domingo na Boca, como uma manada de elefantes estrábicos, provando que realmente é um time diferenciado, arrancando-nos da constrangedora sétima posição na tabela de classificação. Sim, ainda estamos invictos na competição; não perdemos para ninguém... Porém, acho que o Pelotas vem perdendo, sim... Vem perdendo de goleada para si mesmo... E, na minha opinião, esta é a mais triste e melancólica das derrotas.
Manoel Magalhães.

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