domingo, 7 de outubro de 2007

Espírito maragato.

O futebol gaúcho, notadamente o praticado na Segunda Divisão, lembra muitíssimo a disputa inventada pelo imperador chinês Huang-ti, a uns dois mil e quinhentos anos antes de Cristo. A disputa foi inventada para que o monarca treinasse seus bravos soldados, preparando-os para as batalhas. Os precursores do futebol se distraiam chutando cabeças decepadas. Divertido, não? Por isso que muito jogador abre a “caixa de ferramentas” e põe-se a chutar a cachola dos adversários. É um salve-se quem puder. Puro atavismo. Não bastasse isso, os “bravos” guerreiros, por respirarem o ar do Rio Grande do Sul, estado de homens duros e belicosos, forjado num “continente” que já foi terra de ninguém, palco de guerras sangrentas, agregam ao seu modo de ser comportamento que, numa primeira e rápida análise, pode ser interpretado como deslealdade. Mas não é. É duro de acreditar, mas há equívoco nesta interpretação. Temos de entender que fomos uma “República” disputadíssima por Portugal e Espanha. Muito sangue e cabeça rolaram pela solidão inimaginável do Pampa. O gaúcho de antanho fez das tripas coração para se fazer respeitar, escorraçando invasores castelhanos que aqui desejavam fincar bandeira. O Tratado de Tordesilhas pôs fim às batalhas e sangrias de fronteira. Mas não capitulou a vontade do gaúcho de guerrear... Guerrear num gramado de futebol, para ser mais explicito. Portanto, a segundona gaúcha reprisa, nas quatro linhas, aguerrida tradição de vencer a qualquer preço, ainda que a custa da cabeça do próximo, de ordinário disputada em gramados duros, pipocando de “montinhos” artilheiros; campos de pastagem; campos de terra e poeira... e sangue! Campos em que a pelota sofre mais que corista de ópera. Campos, por fim, que não permite futebol “arte”, futebol “firula”, futebol “fresco”. Desconfio que a expressão “bola pro mato porque o jogo é do campeonato” foi cunhada dentro de nossas fronteiras. Desconfio, também, que zagueiro durão, a fina flor da truculência, é zagueiro gaúcho; espécie de jogador que também chuta a bola. Ah, também suspeito que o volante de contenção nasceu por aqui, no País Rio Grande do Sul de espora, de bombachas, de chiripá, de pala e lenço ao pescoço. O “sport bretão”, jogado por ingleses de carantonha vermelha e severa – que são exemplos de educação na Câmara dos Lordes – encontrou em nossos domínios terra fertilíssima. O Lobão, ano que vem, disputara outra vez esta “sangrenta” divisão, que deveria ter as regras do futebol americano, onde sujeitos de maus bofes se vestem de astronautas e saem correndo como loucos atrás de uma bola oval, distribuindo bifes a torto e a direito. Assim sendo, deve se preparar para isso, começando pela escolha de um técnico que tenha perfil belicoso, sujeito absolutamente de rinha, que seja igualmente bom estrategista. Ele saberá escolher jogadores, ou melhor, guerreiros que tenham capacidade de se doar ao time até as últimas conseqüências... Assim chegaremos à Primeira Divisão... Sem esse espírito maragato não teremos êxito, como não tivemos este ano. Façam suas apostas, senhores.
Manoel Soares Magalhães.

Chuva de mel.

Choremos, senhores, choremos. Deixemos cair nossas lágrimas... Nosso esguicho particular e intransferível... Ninguém pode chorar nosso choro, sofrer nossa dor. Talvez seja, em muitos anos, nossa mais sombria segunda-feira... É bem possível que a grande maioria chore de raiva, de ressentimento... Outros, porém, choram realmente de tristeza, ainda agarrados a resquícios de confetes e serpentinas que choveram sobre a Boca este ano, que me parecia seria de festa e não de lamentações. Sejamos realistas, embora o choro seja verdadeiro. O Lobão foi a Santa Maria para uma difícil missão. Evidentemente que em futebol tudo é possível, e ganhar do time da casa embalado, diante do maior público que a Baixada Melancólica teve em anos, não seria tarefa impossível, não. O time local, porém, não foi surpreendido. Deu à lógica – lógica, aliás, que se enfiou em nossas entranhas como uma bola de fogo. Pretendíamos um empate; o empate, entretanto, evaporou-se meio a ventania que soprava sobre Santa Maria. Perdemos... Perdemos a partida e o acesso à Primeira Divisão, sonho que alimentávamos desde Limeira, São Paulo, onde foi feita triagem de alguns jogadores que fariam parte do elenco do Lobão na temporada que se encerra de forma tão, digamos, chorosa. O acesso, é bom que se diga, não foi perdido na derradeira partida. Não; foi sendo construído ao longo do returno do octogonal. O Pelotas que se viu jogar desde a primeira fase da segundona – sobrando em campo, classificando-se antecipadamente – estava distante do time que encerrou a competição. Indícios de que os jogadores estavam deixando a peteca cair viu-se na fase classificatória para o octogonal. Ali, naquele momento, os comandados de Agnaldo Liz ensaiavam o que estava por vir, mas recuperaram-se a tempo e classificaram o time. Após a emocionante vitória sobre este mesmo Internacional de Santa Maria, numa segunda-feira, gol de Michel, todos esperavam que o time fosse deslanchar e disparar rumo à Primeira Divisão. Não foi o que aconteceu. Perdemos para o Ipiranga de Sarandi, o lanterna da competição. Daí para frente foi uma sucessão de tropeços, que resultou na desclassificação de um clube que tinha tudo para estar, hoje, entre os grandes do Rio Grande do Sul. Numa partida nervosa, diante de um público vibrante, que empurrava o time da casa, o Pelotas, com dois gols de bola parada, entregou de bandeja sua vaga – ou sua cabeça? – ao adversário... E tudo isso aconteceu diante de sua corajosa e barulhenta torcida, que gritou o tempo todo na arquibancada, no afã de empurrar seu clube do coração à vitória. Entusiasmado torcedor que apanhou como cachorro sarnoso no final do jogo. Os policiais, na ânsia de manter a ordem, deram cacetadas a torto e a direito, utilizando-se ainda de gás de pimenta, fazendo-nos chorar ainda mais. Não bastasse a frustração, arrancaram de nossa alma em ferida forçadas lágrimas. De quebra, choveu pedras sobre os bravos torcedores, acuados num canto de arquibancada. Como tênue consolo, vimos Michel, o ungido, aninhar seu gol no fundo das redes de Luciano... Gol que nos encheu de esperanças... Afinal, o empate nos lançaria do inferno às nuvens. O grito de gol, porém, não veio. Ficou trancado em nossa garganta como uma bola de concreto. Esperamos que, em 2008, com time e vontade renovados, o berro de gol que ficou cravado em nosso peito seja projetado às alturas e se transforme em chuva de mel. É o que todos nós esperamos.
Manoel Soares Magalhães.

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Jorge Preá, o predestinado.

Existem pessoas predestinadas. Ainda que se não veja existe em suas frontes o invisível selo da predestinação. Penso que Jorge Preá, que engordou seu farnel de gols na primeira fase da segundona, é uma dessas pessoas. Anda afastado da artilharia por esotéricas forças, ressentindo-se da lesão. Por causa disso, imagino que em sua mente habite pensamentos funestos, sombrios, que o enfraquecem física e psicologicamente. Em campo, para a sua e nossa frustração, a bola escapa de seu domínio, mais elétrica e revolucionária que nunca, zombando de sua expectativa. Imagina-a cândida, mansa, para que possa, num mínimo lapso de tempo, enfiá-la por entre as pernas dos aturdidos beques e, com exaltação, fazê-la aninhar-se nas redes. Ele sonha com isso. Desespera-se. Repete inúmeras vezes o nervoso e compulsivo sinal da cruz, agradecendo graças que, sabe-se lá por que, o Criador não concede. Seu radioso sorriso, que nos contagiou desde o início, anda apagado como sol de inverno. Porém, como disse acima, considero-o um predestinado. Por esta razão, encaro a expulsão de Flávio Dias, no domingo passado, ainda que injusta, uma artimanha do destino, que deseja vê-lo entre os guerreiros na decisão de sábado. Almeja, em sua máxima imponderabilidade, restituir-lhe o sorriso, a alegria, e por tabela, devolver-nos a felicidade. Portanto, sábado, Jorge Preá, o predestinado, entrará em campo para estufar as redes do Internacional de Santa Maria, para fazer a sua... A nossa alegria!
Manoel Soares Magalhães.

Ainda não perdemos a guerra.

Senhores, a realidade é gritante. O pior adversário do Pelotas, no returno do octogonal, foi ele próprio. Sim, perdeu escandalosamente para si mesmo. Começou com o tiro no próprio pé, ao ser derrotado pelo lanterna da competição, o Ipiranga de Sarandi, talvez no mais medíocre jogo do ano. Na partida seguinte, empate com o Sapucaiense, em casa, resultado que fez o torcedor roer as próprias vísceras. Na seqüência, derrota para o Ypiranga de Erechim, fora de casa, por 2 a 0. Ganhou fôlego vencendo o Rio Grande por 2 a 0, reanimando as esperanças do torcedor. Mas, tornou a tropeçar contra o Grêmio Bagé, num amargo 0 a 0, diante de mais de mil fanáticos áureo-cerúleos que invadiram a Rainha da Fronteira. E, no último sábado, para desespero da “nação” azul e ouro, empatou em 2 a 2 com o Santo Ângelo, em casa, num jogo que merecia constar nas páginas de Shakespeare. Assim, em 18 pontos disputados, o Lobão contabilizou 6... Seis minguados pontos. Para a sua sorte, o nível da competição é medíocre, pois, embora sem pontuar, mantém-se líder. Portanto, com ou sem mérito, o fato é que o Pelotas tem chance de chegar à Primeira Divisão, sim! Assim sendo, listar nomes para que sejam crucificados em praça pública é, no mínimo, grandessíssima burrice. É hora de mobilizar direção, jogadores e torcedores para o jogo do final de semana contra o Internacional de Santa Maria. Ainda que o empate, mercê de resultados combinados, sirva para deixar o Lobão na Primeira Divisão, o objetivo maior, inegavelmente, é a vitória. Apesar da fraca campanha, ganhar do “coloradinho” em seus domínios não é tarefa impossível. Aliás, nesta temporada, os times que jogam em casa, com poucas exceções, têm tropeçado feio. Logo, não seria nenhuma novidade uma trapalhada do Internacional diante de seu torcedor que, certamente, se fará presente ao estádio em grande número, impondo pressão ao adversário. Para que esse “milagre” aconteça, o Pelotas tem de entrar em campo focado no jogo, consciente de que não existe bola perdida ou lance impossível. Mais que nunca, também, precisará contar com a sorte que se tem mostrado fiel companheira ao longo do campeonato. Assim sendo, o “montinho” artilheiro, “vilão” dos goleiros, também o beneficiará, bem como o gol “metafísico”, que desafia a genialidade de matemáticos e físicos. Para que tudo isso seja realidade, os “guerreiros” áureo-cerúleos têm de entrar em campo ungidos pelos deuses do futebol, que elegem quem merece a benção. Pelo andar da carruagem, acredito que o Pelotas merece esta sorte. Concluindo; acho prematuro jogarmos a toalha no instante capital da competição. Mais que nunca o torcedor tem de materializar a paixão que tem por seu clube, o qual perdeu algumas batalhas, mas ainda não perdeu a guerra.
Manoel Soares Magalhães.

Uma tarde para ser esquecida.

Sábado à tarde, na Boca, no empate frustrante em 2 a 2 com o Santo Ângelo, mais de cinco mil torcedores experimentou na pele a tessitura fria, incômoda, de uma tragédia grega, deixando-o tão curvado a ponto de deixar o estádio arrastando o nariz no chão, vendo o sonho da Primeira Divisão se esvair meio as negras nuvens que cobriam o estádio. A entrada do time em campo foi apoteótica. O grito “vamos subir Lobo” se misturava ao espocar de foguetes, dando indício de que a festa, realmente, seria completa do início ao fim do jogo. Jogo, aliás, que começou eletrizante. Por duas vezes consecutivas o Santo Ângelo ameaçou o gol de Cássio. Graças à incompetência de Pavão e Locateli os gols não foram convertidos. Aos 19min do primeiro tempo, numa cobrança de escanteio, o zagueiro Adilson Lima apareceu entre os beques adversários e, numa cabeçada fulminante, enfiou a bola nas redes. Decretava-se, pois, a abertura do placar favorável ao Lobão, levando o torcedor ao céu. O “Santo”, entretanto, estava vivo no jogo, ensaiando seus milagres, que aconteceu aos 9min do segundo tempo, também numa cobrança de escanteio. Quito, disposto a estragar a festa áureo-cerúlea, desviou a bola em direção à meta de Cássio, que nada pode fazer. 1 a 1 no placar. O gol caiu sobre o estádio como uma chuva fria é ácida. Aos 11min, porém, em rápida jogada de Douglas pela direita, penalidade máxima a favor do Pelotas, levando o torcedor, outra vez, a experimentar inenarrável exaltação. Goiano põe a bola na risca do pênalti, e se afasta um pouco, mãos à cintura. A torcida pula na arquibancada, ensaiando o grito de gol. Ele correu para a bola e chutou. Goleiro para um lado, bola para o outro. 2 a 1. Festa na Boca. Os gritos que ganharam os ares viraram chuva de mel. Entretanto, o pior estava reservado ao Pelotas. Num desentendimento entre Flávio Dias e Airton, do Santo Ângelo, ambos foram expulsos. O Lobão, ressentindo-se da falta de um atacante, cedeu terreno ao adversário, que se mandou para o ataque, dando susto atrás de susto à zaga áureo-cerúlea, que se defendia com chutões para cima, para os lados. Morto em campo, Goiano saiu, entrando em seu lugar Antonio Carlos. A troca não surtiu muito efeito, embora o atleta tenha se esforçado muito defendendo e, quando dava, tentando contra-ataques. Para reforçar o ataque, Agnaldo Liz sacou do time Michel, que se arrastava em campo, colocando Jorge Preá, esperança de gol para o time azul e ouro, que se deixava atacar vivamente, levando o torcedor a loucura. Ai, num lance infeliz de Cássio, numa saída de bola, lançou-a nos pés de Evandro Brito, o qual, experiente, deixou Marcinho Galvão em condições de fuzilar Cássio. 2 a 2. Gol paralisante, que nos enfiou no pior dos pesadelos. Glacial frio percorreu as arquibancadas da Boca, petrificando a torcida. Perplexidade em todos os rostos. Pela primeira vez este ano a torcida “Unidos por uma paixão” titubeou, vozes enfraquecidas... Olhares agônicos... Agia como se tivesse recebido um cruzado forte no queixo, levando-a a lona. O Lobão, desesperado, tentou reagir no jogo, mas a sorte estava decretada. O trágico empate seria o resultado final. Em tarde que tinha tudo para ser de festa, acabou em lágrimas e lamentações. Uma tarde para ser esquecida. Resta-nos, agora, o jogo contra o Internacional de Santa Maria. Deixemos, entretanto, este assunto para outra crônica.
Manoel Soares Magalhães.

Festa ou lágrimas de esguicho.

Em futebol, geralmente, a regra é a seguinte: matar ou morrer. Tratando-se de jogo decisivo o matar ou morrer assume proporções épicas. Em caso de morte, digna será a lembrança da bravura dos jogadores que derramaram a última gota de suor e sangue em busca da vitória. Neste caso, como disse Nelson Rodrigues, o meio fio da calçada será nosso consolo, onde vamos chorar lágrimas de esguicho na maior dignidade. Vencendo a batalha, sobrevêm os louros da vitória, oportunidade em que os guerreiros são apupados como heróis, conquistando na nossa memória, em definitivo, especial nicho. É o que esperamos do Lobão, sábado, às 15hs, frente ao Santo Ângelo, quando o destino do Clube estará sendo jogado. Os onze guerreiros escalados pelo técnico Agnaldo Liz estão convictos de que vencerão a partida, cobrando muito caro empate ou derrota. A torcida, por sua vez, que se tem mostrado forte e entusiasmada, fará sua parte cantando num coro de quiçá 10 mil vozes “vamos subir Lobo”, empurrando o áureo-cerúleo à vitória mais esperada do ano. Time e torcida, fortemente unidos, engendrando forte energia, não permitirão que o Santo pense em fazer algum milagre na Boca, frustrando nossas mais caras expectativas. O Lobão tem de olhar para o adversário como se fosse, na verdade, a avó do Chapeuzinho Vermelho, e degluti-lo com vontade, não deixando sequer um ossinho de lembrança. Desde os primeiros instantes da partida, da zaga ao ataque, os “farrapos da Boca do Lobo” têm de estar sintonizados, aproveitando-se da chance que se apresentar. Aliás, ainda que o desenho da partida seja o de um jogo aberto, pois os dois clubes precisam pontuar, penso que o ferrolho, do lado do Santo Ângelo, vai prevalecer, optando pela tática do contra-ataque, almejando surpreender o Lobo que, como não pode ser diferente, jogar-se-á à frente com ímpeto de um cruzado. Quanto ao zagueiro Rudi, nosso “maragato”, um dos mais experientes do grupo – na companhia do “milagreiro” Cássio, Axel e Goiano – tem a necessidade de passar aos companheiros a fibra de um autêntico gaúcho que não teme o inimigo. Jogador avesso ao futebol “bailarino”, mas que na hora do “pega pra capar” não mede esforços no sentido de chutar inclusive a bola em direção à lua se necessário for. O zagueiro Adilson, que nos últimos jogos tem estado a seu lado, não obstante uma ou outra vacilada, parece ter assimilado a forma de jogar do “maragato” Rudi. Na frente da zaga, a força e a determinação de Gasolina ou Thiesen. No meio de campo, apostamos no talento do “príncipe etíope”, o qual, às vezes, parece dormir, mas que de súbito é bafejado pelos deuses do futebol, jogando com estilo, desnorteando o adversário, não raro culminando com gol. Jogamos nossas fichas também em Axel, que nos últimas apresentações tem brilhado, tendo à mão a batuta de um imaginativo maestro, ditando o ritmo do jogo. E na frente, território dos “matadores” Flávio Dias e Michel, o “ungido” – e Jorge Preá, caso seja escalado ou entre no segundo tempo – ansiamos que entrem em campo imbuídos de fundamentalista fé, com ganas de enfiar a bola nas redes mais de uma vez. Enfim, é do nosso desejo que o time inteiro jogue um futebol capaz de fazer tremer o Santo Ângelo, construindo uma maiúscula vitória, chegando por fim à elite do futebol gaúcho. Depois... Ah! Depois é fazer a festa na Bento Gonçalves. Na pior das hipóteses, restar-nos-á o choro de esguicho no meio fio da calçada, esperando o decisivo jogo contra o Internacional de Santa Maria, no próximo domingo.
Manoel Soares Magalhães.

Haja coração.

Domingo à tarde, na Pedra Moura, em Bagé, no 0 x 0 com o time da Rainha da Fronteira, o Lobão jogou em casa. Não, não estávamos na “terra dos generais”, e sim na Boca do Lobo. O time, entretanto, não entendeu que o acanhado estádio jalde-negro fora tomada de assalto pela massa áureo-cerúlea. Jogou como se tivesse jogando fora de casa. Cerca de seis ônibus, juntando-se a eles carros particulares, conduzindo animados torcedores, em torno de mil vozes afinadas gritando “vamos subir Lobo”, tentavam provar que o Pelotas estava em seu domínio... Um domínio de metáfora, mas ainda assim domínio. Os comandados de Agnaldo Liz, porém, malgrados ouvissem o grito da arquibancada, não correspondiam em campo. O jogo começou com o Bagé pressionando, levando perigo à meta de Cássio, cuja estrela brilhou mais que Vênus. Leandro Guerreiro, carrancudo atacante do Grêmio Bagé, parecia um touro indomável à pequena área do Lobão. Rudi e Adilson Lima suaram pregos para segurá-lo. No lugar de Gasolina, que saiu contundido, o volante Thiesen, competente como sempre, teve igualmente muito trabalho para segurar o ataque do Bagé. O Pelotas ambém ameaçou Roger, num chute forte de Goiano, que foi à rede, só que pelo lado de fora, arrancando mal-sucedido grito de gol da garganta do torcedor. No segundo tempo, o Bagé voltou como estava, decidido a estragar a festa áureo-cerúlea. O time pelotense, porém, melhor organizado, deu a entender ao jalde-negro que a história poderia não ser bem esta. Numa tarde inspirada, Axel foi o homem do jogo no meio-campo do Pelotas, conduzindo a reação azul e ouro, que, se quisesse ganhar, tinha de ser mais impetuoso. Goiano, que de repente mostrou-se “vivo”, numa cobrança de falta, fez o arqueiro Roger espichar-se todo, espalmando para fora. Logo a seguir, Chocolate, que entrara no lugar de Cleiton, em bola que sobrara à sua feição, chutou para outra grande defesa de Roger. Aos 46min, Jorge, substituindo Michel, que deixara o campo cansado, escapou pela ponta, mas, na hora de cruzar para Flávio Dias sozinho na área, a bola foi, caprichosamente, para fora, na última estocada do Lobo da Avenida Bento Gonçalves, que, sábado, às 15hs, contra o Santo Ângelo, combinado com um resultado favorável (empate ou derrota do Internacional de Santa Maria no jogo contra o Ipiranga de Sarandi), pode fazer a festa. Caso contrário, fica tudo para ser decidido no último jogo. Haja coração!
Manoel Soares Magalhães.

Momento de transcendência.

A festa que a torcida do Lobão fez após os 2 x 0 sobre o Vovô, quinta feira à noite, merece crônica a parte. Torcedor, aliás, que em muitas campanhas negativas do áureo-cerúleo, abandonou o campo disposto a desferir dentada no primeiro poste que encontrasse pela frente, tamanha era a raiva que se lhe entorpecia a alma, deixando-a em frangalhos. Torcedor ansioso por um time pegador, guerreiro, que de tanto correr e batalhar deixasse no gramado férteis gotas de suor. Ontem, porém, as coisas funcionaram. O time, unido pelo desejo da vitória, orvalhou o gramado da Boca do Lobo com seu esforço. Desde início do jogo, gargantas se escancararam em cânticos de guerra, empurrando os jogadores à vitória. O grito de “vamos subir Lobo” ecoou dentro da noite pelotense, provocando a transcendência de nossas sofridas almas. Após o fim do jogo, os torcedores seguiram em passeata pela Gonçalves Chaves, entrando na Avenida Bento Gonçalves. Imensa centopéia vibrando seus múltiplos corações, entregue a mais bela e entusiasta ópera já cantada nas imediações da Boca. Evidentemente que não resisti àquele apelo de felicidade. Misturei-me à torcida, também gritando, cantando, deixando-me invadir por rara sensação de vitalidade, que fazia o sangue regurgitar nas veias. Imaginei o instante em que, certamente, iremos comemorar a chegada à Divisão Especial. A Avenida Bento Gonçalves será pequena para abrigar a nação áureo-cerúlea, que em cortejo a percorrera não uma, mas várias vezes, sob o som de cânticos e buzinas de carros. Um merecido carnaval fora de época, comemorando com a presença dos jogadores sobre o caminhão do Corpo de Bombeiros. Mas para isso precisamos ir a Bagé, domingo, e, em campo, mostrar a mesma determinação de quinta-feira à noite. O décimo segundo torcedor, agora, mais que nunca tem de estar ao lado do time. Portanto, domingo, através de imenso arco-íris unindo Bagé e Pelotas, predominando o azul e ouro, chegaremos à Rainha da Fronteira para empurrar o Lobão para mais uma vitória.
Manoel Soares Magalhães.

A noite dos garçons.

O Lobão reencontrou ontem à noite seu melhor futebol, vencendo o Rio Grande, o Vovô, por 2 x 0 sob o embalo de sua entusiasmada torcida, deixando-o ainda mais perto da Primeira Divisão. Desde os primeiros instantes da partida, o áureo-cerúleo mostrou-se centrado, pegador, decidido realmente a superar a má fase, provando que a sacudida do vestiário, protagonizada pelos homens fortes do Pelotas (César Sampaio, Aleixo e Gastaud), funcionou. Embora empreendesse pressão ao Rio Grande, a primeira chance de gol foi aparecer só aos 17 min. Numa jogada ensaiada, Axel deu uma bola com açúcar a Michel, que cruzou encontrando Flávio Dias na pequena área. Ele cabeceou forte, mas o goleiro Jonatas, bem colocado, evitou o que seria o primeiro gol do Lobão. Em outra oportunidade, aos 21 min, Goiano, cobrando falta, chutou firme. A bola bateu na barreira e, temperamental como diva de ópera, foi beijar o travessão, arrancando gritos agônicos da torcida. O Vovô, por sua vez, brandindo sua bengala, levava perigo à baliza de Cássio. Aos 44 minutos, o endiabrado Bruno Siqueira tabelou com Flávio Dias, deixando rastro de mel na pequena área. A bola, entretanto, àquele minuto, disse não às pretensões de Bruninho, saindo para fora. Encerrava-se, pois, um primeiro tempo de arrepiar as mais duras couraças. Veio o segundo tempo e a adrenalina, dentro e fora do campo, atingiu picos elevados. Nem bem havia transcorridos 5 min, Goiano deu ao lateral direito Cleiton uma bola convenientemente enfeitada sob uma bandeja. O arremate forte foi pela linha de fundo, arrepiando ainda mais a arquibancada, que, entendendo o grande momento do time, aumentou o grito de guerra. A noite foi realmente dos garçons. Michel serviu uma bola com gosto de goiabada cascão a Goiano, que, de virada, mandou por cima do travessão, fazendo a torcida sonhar com uma bola recheada de confeitos enfiada nas redes. Aos 11 minutos, o sonolento príncipe etíope de outras jornadas, em lançamento de antologia, deixou o atacante Michel cara a cara com o arqueiro do Vovô, o qual, em segundos, soube que a bola, que traçara volutas na azulada noite da Boca do Lobo, teria só um destino: as redes. E foi o que aconteceu. Num instante de rara beleza plástica, Michel cobriu o atônito Jonatas, enfiando a bola em seu destino: o fundo da baliza. Estava decretada a abertura do placar. A vibração estourou na arquibancada como há muito tempo não se via. Michel, batendo a mão no peito, sob o coração, correu pelo campo sorriso pingando mel. Imediatamente Agnaldo Liz fez entrar Antonio Carlos e Thiesen, para dar mais consistência à bastilha áureo-cerúlea. Em contra-ataques, o Pelotas ameaçava o patrimônio do Vovô, que, realmente, perdera os óculos. Através de Flávio Dias, o Lobão teve duas oportunidades de ampliar o placar. O destino, porém, complacente com o atacante, disse: faz teu gol, Flávio. E ele fez. Aos 47 minutos, recebeu uma bola cheia de afagos dos pés de Jorge (que entrara para ganhar confiança). O goleiro Jonatas defendeu o primeiro chute, mas, no rebote, o matador fez o que um matador tem de fazer, matar. 2 x 0 no placar. Explodindo de entusiasmo, o atacante arrancou a camiseta e correu para o abraço. Logo em seguida o árbitro trinaria o apito, finalizando o jogo que deixou o Lobo da Avenida mais que nunca vivo na competição. Mas o espetáculo ainda não havia terminado, não. Flávio Dias e Jorge Preá, os matadores do Lobo, no alto da tela que divide a arquibancada do gramado, cantaram juntos com a torcida. O “vamos subir Lobo” invadiu a noite de quinta-feira, deixando-a ainda mais elétrica e vibrante. Depois, agradecidos pelo grito que nasceu da escancarada garganta da torcida azul e ouro, jogaram as respectivas camisetas aos torcedores, que as disputaram como troféus. Assim, pois, encerrara-se o embate entre Pelotas e Rio Grande. O tão sonhado triunfo virara realidade.
Manoel Soares Magalhães.

Um grande triunfo.

O Esporte Clube Pelotas esta tendo mais sorte que juízo nesta temporada. O resultado de 1 x 1 entre Internacional de Santa Maria e Santo Ângelo favoreceu mais uma vez o Lobão. Com duas vitórias (contando que Sapucaiense tire pontos do time de Santa Maria no próximo domingo), estamos na Primeira Divisão do ano que vem. Apenas dois jogos vitoriosos nos separam do objetivo maior. Portanto, hoje à noite não tem desculpa para jogadores, dirigentes e torcidas... A meta é ganhar – de meio a zero se for possível. Acompanho a segundona há muitos anos e confesso que ainda não havia visto um time contar tanto com a sorte como o Pelotas. Já transcorreram várias rodadas e o Lobão perdeu apenas uma posição. Deixou a liderança, ocupada agora pelo Sapucaiense, que a meu juízo já está na Primeirona, e se alojou na vice-liderança e ai ficou. É muita sorte. Sorte que, hoje, tem de se manifestar dentro de campo também, contando evidentemente com o esforço dos onze jogadores que forem para o jogo, tendo ainda nos ouvidos a palavra forte e determinante de César Sampaio e Aleixo, que pediram empenho dos atletas neste delicado momento da competição. O superintendente do Lobão, em entrevista à imprensa local, disse que o time tem de entrar voando em campo. É isso ai, rapazes... Voar e muito! Precisamos “atropelar” o Vovô. Asfixia-lo em seu campo sem que respire. Fazer da vida do time riograndino um verdadeiro inferno. Evidentemente que tem de haver preocupação de ordem tática, mas a vontade de ganhar precisa ser infinitamente maior. No primeiro lance do jogo precisamos arrancar os “óculos” do Vovô, deixando-o momentaneamente cego, sem norte, às apalpadelas pelo campo como uma barata tonta. O receio de bater em “velho” tem de ser esquecido, pois, se não haver competência, receberemos bengaladas doídas e fatais sobre os ombros, as quais podem nos jogar à lona. E o pior: fazer com que amarguemos mais um ano no abismo da Segunda Divisão. Quanto a nós torcedores, prometemos gritar mais que nunca, embalados pelo entusiasmo. A vitória do Lobão será nossa vitória. Seu triunfo nosso triunfo. Por falar em triunfo, o Vovô, desde que fora fundado há mais de cem anos, jamais perdera uma partida. No dia 24 de outubro de 1909, veio a Pelotas e perdeu para o Lobão. Fora, portanto, o primeiro triunfo áureo-cerúleo em seus domínios. O cenário esta montado para que, hoje à noite, após 98 anos, obtenhamos outro grande triunfo sobre o Vovô. Que ele nos perdoe, mas isso tem de ser feito.
Manoel Soares Magalhães.

Para não chorar depois.

Fui um dos últimos torcedores a deixar a Boca após o jogo contra o Sapucaiense. Havia ainda algumas pessoas por lá, olhando meio tontas para os lados, sem entender o quê havia ocorrido com o time, que jogo a jogo desanda assustadoramente. Desliguei o rádio e fiquei em silêncio, tentando entender o que levara aquele grupo de jogadores a tamanha falta de motivação. Os quero-queros, aliviados, tratavam de se acomodar em seu ninho após o jogo. Permaneci quieto, fitando-os em seu pequeno minifúndio. Vendo-os ali, solitários, aconchegados, lembrei-me do que eles representam no imaginário do pampa gaúcho. São sentinelas... Seu canto libertário ecoa pela vastidão verde, onde em cada centímetro, como flores do campo, habita a alma do gaúcho... Do gaúcho destemido, guerreiro... Aliás, falando em guerreiro... Onde foi parar a alma guerreira dos atletas do Esporte Clube Pelotas? Que houve com brio de homens que tinham por objetivo chegar à Primeira Divisão do Futebol Gaúcho, e, de repente, perderam o rumo? Hoje, não dignos de ouvir o canto do quero-quero que ressoa durante o jogo e, também, nas silenciosas noites da Boca do Lobo, insuflando a alma dos guerreiros de ontem, de hoje e de amanhã. Quem sabe um passeio pelo gramado, à noite, meio ao silêncio das arquibancadas, ouvindo este emblemático canto, eles não despertem outra vez o adormecido espírito guerreiro? Espírito que se adormeceu em algum canto da alma, a qual, bem sabemos, grita para ressuscitá-lo. Àqueles que apurarem bem os ouvidos, certamente ouvirão o som do choque de espadas, de cascos de cavalos escavando o chão... É o vento morno da quase primavera de 2007 trazendo do passado ruídos de batalhas sangrentas... Embates de gaúchos defendendo seus domínios, suas mulheres, sobretudo seus sonhos... Escancaradas gargantas de homens de brio, que não temem a morte, lutando até a última gota de sangue no sentido de coroar de êxito o sonho de todos. Sim, se andarem pelo gramado entregue ao silêncio, ouvirão vozes que se jogam do passado em direção ao presente, instando-os à luta. O canto do quero-quero far-se-á presente, dando à cena requintes de realidade. Gemidos e lamentos também serão audíveis... Mas para lembrar-lhes que a vontade de lutar tem de ser mantida até o fim. A grandeza de um estado (de um time) não se faz gratuitamente. O sangue e o suor derramados adubam a terra, tornando-a fértil. Nela, os sonhos florescerão. Sim, um passeio faz-se necessário pelo gramado à noite. As arquibancadas vazias e silenciosas como testemunhas, além, evidentemente, do distante cruzeiro do sul. Ouvir a própria alma encarcerada, gritando para libertar-se, é o combustível que esta fazendo falta aos atletas do Esporte Clube Pelotas neste momento. Deixem-na sair recendendo a sangue e lágrimas... E chorem se quiser. Para não chorar depois.
O quero-quero tem muito a nos
falar de coragem, bravura...
É disso que o Lobão tá precisando
agora...
Manoel Soares Magalhães.

Como Maria Antonieta?

Não acredito que o Lobão, com a derrota de domingo à tarde, 2 a 0 para o Ypiranga, esteja a caminho da UTI. Ainda depende só de suas forças para chegar à Primeira Divisão. Mas, para isso, precisa jogar. Necessita fazer o que não vem fazendo, enfiar a bola na rede. Por essa carência de gols, e por uma seqüência de péssimos resultados, a “guilhotina” anda rondando a Boca do Lobo, ameaçando decepar a cabeça do técnico Agnaldo Liz, o qual, segundo o torcedor, é o responsável direto pelo fraco desempenho do time até aqui, graças a escalações esquivocadas. Quanto ao jogo de Erechim, o Lobão não entrou em campo no primeiro tempo. Só o time adversário jogou, e se não fosse Cássio iríamos para o intervalo amargando derrota parcial. Senhores, que “salão” de baile se constituiu o meio do campo do Pelotas! Os jogadores dançaram mazurca, cancan, tango e, evidentemente, samba num estádio entregue às moscas. O Ypiranga, que não estava nem ai para o Pelotas ou para a falta de público, imprimiu sua forma de jogar, pressionando o time pelotense, que, apático, assistiu as investidas do adversário. Ainda no primeiro tempo, o técnico sacou Thiesen do time, enfiando Antonio Carlos, que, na primeira jogada, quase cometeu penalidade máxima no adversário. Aliás, até agora estou me indagando por que ele tirou do jogo uma das poucas peças que funcionavam na emperrada engrenagem azul e ouro? No segundo tempo, entretanto, o técnico minimizou a trapalhada, colocando Vagson no lugar de Bruninho e Chocolate rendendo Douglas. O time ficou mais pegador, enérgico, lançando-se ao ataque com alma, com vontade de vencer. As oportunidades, em razão disso, surgiram. Não uma, mas várias. Era a vez de o Lobão convidar o Ypiranga para “dançar”. Só que o time de Erechim não dançou. Fez mais. Tratou de jogar um balde de água fria na fervura áureo-cerúlea. Aos 30 e 42 minutos, quando o Lobo era todo pressão, Edílson faz dois gols... Gols que entraram na alma do torcedor como punhais, enegrecendo a tarde que começara festiva, pintada de azul e ouro. Uma derrota com gosto de segunda-feira antecipada. Com mais este revés, o Pelotas caiu para segundo lugar. Esta vivo na competição, mas precisa mostrar isso contra o Rio Grande, quarta-feira na Boca. E chegada à hora do time mostrar garra, vontade de vencer a qualquer custo. Os mais experientes, Cássio, Rudi e Rodrigo Gasolina, largando fogo pelas ventas, mais que nunca tem de chamar a responsabilidade para si, dando exemplo àqueles que, na altura do campeonato, ainda não entenderam que segundona é guerra. Se a cabeça de Agnaldo Liz não for separada do pescoço como a de Maria Antonieta, precisa mostrar serviço contra o Vovô, quarta-feira. Caso contrário, não tem salvação.
A sorte de Maria Antonieta não foi das melhores...
Sua cabeça rolou para o povão festejar.
A torcida do Lobo anda roendo as unhas, louca
para ver a cabeça de Agnaldo Liz separada do tronco.
Isso é justo? A história dirá.
Manoel Soares Magalhães.

No lado esquerdo do peito.

Esporte Clube Pelotas x Ypiranga de Erechim não é tão-só um jogo. Vai além disso, apostem. Trata-se de uma partida com ressonâncias épicas, onde a vontade de ganhar tem de prevalecer sobre tudo e sobre todos. Não foi sem vontade – e sobretudo coragem – que vencemos a barreira do tempo e deixamos para trás o selvagem que percorria solitárias savanas em busca de caça. Compreendemos que éramos mais que sangue e vísceras. Tínhamos espírito; nossos olhos se erguiam para o céu e o perscrutavam em busca de respostas que iam além do estômago. À medida que as perguntam eram formuladas, e as respostas, como raios iluminando a escuridão, iam-se aderindo à nossa experiência, dando-nos força e coragem para subverter a dureza do ambiente, íamos tendo a noção de que poderíamos chegar, se quiséssemos, muito longe. Se os atletas do Lobão, por um segundo antes de o árbitro trinar o apito dando início ao jogo, imaginarem-se solitários em uma savana, a fome e o medo a roer-lhes a mente e o estômago, certamente encontrarão forças dentro de si para conquistarem o objetivo maior, que é vencer o adversário, que, por sua vez, tem também motivações de vencer, malgrado o anseio de chegar onde desejava tenha-se diluído. Porém, irá jogar para ganhar porque tal desejo corre em suas veias. No caso do Pelotas, que ainda tem fortes pretensões de conquistar o Eldorado, que impulso seria mais forte que o de conquistar o objetivo, profunda e fortemente pensado ao longo da temporada? As espécies – inclusive as unicelulares – movidas pelo apelo da vida, vão muito além de suas forças, desafiando qualquer gênero de conceito que queira enfraquecer esta mágica de se fazer campeão da sobrevivência. Nas quatro linhas, 22 jogadores disputando a bola, refletem não só a magia do futebol, mas a disposição de se superarem em campo, reflexos que são do DESEJO de voar mais longe, além dos picos mais elevados. Senhores, o futebol é metáfora existencial. Que vença não o melhor, mas aquele que tiver queimando no peito a VONTADE de superação. É o que eu espero, domingo, que os atletas do Lobão tenham no lado esquerdo do peito.
Manoel Soares Magalhães.

No lado esquerdo do peito.

Esporte Clube Pelotas x Ypiranga de Erechim não é tão-só um jogo. Vai além disso, apostem. Trata-se de uma partida com ressonâncias épicas, onde a vontade de ganhar tem de prevalecer sobre tudo e sobre todos. Não foi sem vontade – e sobretudo coragem – que vencemos a barreira do tempo e deixamos para trás o selvagem que percorria solitárias savanas em busca de caça. Compreendemos que éramos mais que sangue e vísceras. Tínhamos espírito; nossos olhos se erguiam para o céu e o perscrutavam em busca de respostas que iam além do estômago. À medida que as perguntam eram formuladas, e as respostas, como raios iluminando a escuridão, iam-se aderindo à nossa experiência, dando-nos força e coragem para subverter a dureza do ambiente, íamos tendo a noção de que poderíamos chegar, se quiséssemos, muito longe. Se os atletas do Lobão, por um segundo antes de o árbitro trinar o apito dando início ao jogo, imaginarem-se solitários em uma savana, a fome e o medo a roer-lhes a mente e o estômago, certamente encontrarão forças dentro de si para conquistarem o objetivo maior, que é vencer o adversário, que, por sua vez, tem também motivações de vencer, malgrado o anseio de chegar onde desejava tenha-se diluído. Porém, irá jogar para ganhar porque tal desejo corre em suas veias. No caso do Pelotas, que ainda tem fortes pretensões de conquistar o Eldorado, que impulso seria mais forte que o de conquistar o objetivo, profunda e fortemente pensado ao longo da temporada? As espécies – inclusive as unicelulares – movidas pelo apelo da vida, vão muito além de suas forças, desafiando qualquer gênero de conceito que queira enfraquecer esta mágica de se fazer campeão da sobrevivência. Nas quatro linhas, 22 jogadores disputando a bola, refletem não só a magia do futebol, mas a disposição de se superarem em campo, reflexos que são do DESEJO de voar mais longe, além dos picos mais elevados. Senhores, o futebol é metáfora existencial. Que vença não o melhor, mas aquele que tiver queimando no peito a VONTADE de superação. É o que eu espero, domingo, que os atletas do Lobão tenham no lado esquerdo do peito.
Manoel Soares Magalhães.

Carta aberta ao goleiro Cássio.

Cássio, amigo... És goleiro titular do Esporte Clube Pelotas desde 2004. Ninguém põe em dúvida tua identificação com o Lobão. Sabemos do teu empenho ao longo destes últimos quatro anos no sentido de arrancar o Clube da incômoda segundona, que sabemos não é o seu lugar. Por isso, viemos através desta pedir-te que convoques teus companheiros para uma conversa. Chame-os a um canto para que te escutem atentamente, pois tua palavra é a manifestação da experiência ressoando no plantel. Neste momento delicado da competição, detectar a voz hábil, que sabe como poucos chegar à emoção dos colegas, é de fundamental importância. Além do mais, nos teus domínios de goleiro, a pequena e a grande área, divisas em detalhes a geometria, os atalhos, as veredas dos gramados a serem percorridos pelos teus companheiros na condução da bola. Que angústia deve ser estar ali parado, debaixo do arco, procurando dar sentido à mágica parábola de jogar futebol, procurando, no entrechoque de corpos, executar o quer a vontade, soberana, pensou. Penso que, às vezes, imaginas atalhos para que teus colegas, no afã de jogar, não pensaram. Não por falta de talento, mas por imperiosa necessidade de pensar rápido. Por isso, Cássio, se faz necessária à conversa. Eles te escutarão, tenho certeza disso, como o silêncio escuta a música. Seus ouvidos estarão atentos aos teus conselhos, às tuas palavras, às tuas sugestões. Um grande time começa por um grande goleiro. E o Lobão, tendo-o como arqueiro, torna-se um grande time. Tem demonstrado qualidades em campo, embora, às vezes, a convicção esmoreça, e, como sementes que caem em terra infértil, tendem a morrer. Por isso, amigo, tua palavra é importante. Chame-os à realidade. Convença-os de que são fortes e talentosos, e de que podem chegar, sim, ao objetivo traçado no início da temporada. Fragilizar-se é da condição humana. Porém, entusiasmar-se, pensar como campeões, também. Por isso, amigo, viemos através desta evocar tua vontade no sentido de falar-lhes estas verdades. Temos certeza absoluta de que eles te ouvirão, assim como ouvirão as batidas dos próprios corações entrando em sintonia com a mente, fazendo nascer em definitivo a vontade de vencer, de chegar a Primeira Divisão do Campeonato Gaúcho. Estamos contigo, Cássio. Acreditamos em ti, em tua capacidade de liderança. Nós, torcedores, que jogo a jogo sofremos e cantamos na arquibancada, empurrando o time à vitória, que, no frigir dos ovos, é conquista de todos nós áureo-cerúleos. Então, amigo... Podemos contar contigo? Na tradição primitiva e arcaica, ouvir o mais experiente é sábio... Sua voz, como o suave atrito do vento sobre a folhagem das árvores, chega à alma do ouvinte, instando-o a seguir o melhor caminho... O caminho da superação e da vitória... Um grande abraço.
Manoel Soares Magalhães.

Um ponto a ser comemorado.

Senhores, não arranquem os cabelos. Eu também não vou arrancar os poucos que a natureza, por complacência, deixou-me na cabeça. Em vez de chorarmos os dois pontos perdidos, convém comemorarmos o ponto ganho. Evidentemente que ganhar é fundamental, notadamente em casa. Mas, diante de um time chato, pegador como o Sapucaiense, líder como o Pelotas, o empate em 0 a 0 na altura do campeonato não é de todo ruim. Aliás, temos de comemorar, sim, embora os resultados obtidos pelo Lobão nos últimos jogos tenham sido ruins. Internacional de Santa Maria e Santo Ângelo, que pleiteiam também o acesso à Primeira Divisão, na última rodada também tropeçaram feio. Santo Ângelo contra o Bagé e o Internacional contra o Vovô, que, até aqui, tem sido um padrinho na medida certa. Os contratempos impostos a esses dois times, até poucos dias atrás sérios candidatos ao acesso, prova a dureza da competição. Não tem partida fácil, não. À medida que os jogos se afunilam, a disputa se torna mais acirrada. Quem tiver bala na agulha, sobe. Continuo apostando no Lobão, malgrado o declínio de produção, e também no êxito do Sapucaiense, melhor sucedido até aqui. Quanto ao jogo de domingo, eu diria que teve requintes de drama grego. Desde os primeiros instantes o time de Sapucaia mostrou-se determinado, avisando o adversário que não viera à cidade para pular amarelinha. E, de fato, o prognóstico se confirmou. Foi um deus-no-acuda, ainda que o primeiro lance de perigo tenha sido do Pelotas, numa fraca cabeçada de Gasolina à meta defendida por Eliandro. A partir daí o que se viu foi sucessivos ataques do Sapucaiense, inclusive com uma bola no travessão, cabeçada de Marcos Sapucaia, deixando Cássio vendido no lance. A torcida – que foi ao estádio dar o seu apoio ao Lobão, se agitava na arquibancada, entre suspiros e taquicardias constantes, aguardando uma jogada inspirada do time que resultasse em gol. Preá, que se desconfiava não entrara em campo, fez uma boa jogada aos 29 minutos, deixando Michel em condições de marcar. O arremate, entretanto, foi para fora, jogando um balde de água fria no entusiasmo da torcida. No segundo tempo (ou segundo ato da tragédia?), o panorama da partida não se alterou.
O Sapucaiense, utilizando-se do contra-ataque, levaria perigo ao patrimônio do Pelotas aos 6 minutos. O elétrico Gilian bateu três adversários, ajeitando a bola de calcanhar para Tiago Fernandes, que mandou um canudo em direção à meta de Cássio, impondo-lhe inacreditável defesa. Um arrepio de horror percorreu a basbaque torcida azul e ouro, acuada na arquibancada. Aos 12 minutos, porém, estava reservado ao torcedor do Lobão o ápice do drama. Num chute cruzado de Brida, Jilian, de carrinho, fez a bola passar raspando poste direito de Cássio, arrancando agônicos gritos do torcedor, cujo coração ameaçava sair pela boca. O Lobão, acossado pelo grito de guerra do torcedor, atirou-se ao ataque. Os zagueiros do Sapucaiense, entretanto, bem postados, desmanchavam um a um os assédios dos atacantes Preá e Michel, que tinham fôlego mas nenhuma inspiração. Preá, aos 22 minutos, cabeceou a bola por cima do travessão de Eliandro, frustrando ainda mais o torcedor, que viu neste lance a única e real ameaça ao goleiro adversário durante todo o segundo tempo. Nem as modificações que o técnico Agnaldo Liz introduziu (Bruno Siqueira no lugar de Vicente e Douglas no lugar de Goiano), surtiram efeito. O jogo arrastou-se até o final com o adversário impondo perigo nos contra-ataques. O aspecto positivo do Lobão no malogrado jogo foi a disposição de Thiesen à frente da zaga, que andou batendo cabeça Quando tinha de defender, defendia. Nos momentos de sair para o jogo, o fazia com força e energia, sempre achando um companheiro em melhores condições. Por fim, o time ressentiu-se da falta do maragato Rudi, que dá solidez à zaga e, sobretudo, é voz de comando no grupo, e da ausência do experiente Flávio Dias, o qual, ainda que não esteja em seu melhor momento, impõe respeito a qualquer zagueiro. Contra o Ypiranga de Erechim, porém, eles estarão em campo, quem sabe para ajudar o Lobão a construir uma vitória fora de casa, distanciando-o um pouco mais dos adversários mais próximos. É o que todos nós esperamos.
Manoel Soares Magalhães.

O capitão Nemo.

O destino nos manipula como se fossemos peças de xadrez, conduzindo-nos às sombras ou a luz. Quando o Pelotas mergulhou no pântano da segundona, mais de uma vez encontrei o presidente Aleixo na arquibancada da Gonçalves Chaves, sentado calmamente descascando amendoim. “Ganhamos hoje?” ele indagava vinco de preocupação cruzando-lhe a testa. “Acho que sim”, eu respondia animado. No fundo, porém, tanto ele quanto eu tínhamos poucas esperanças na recuperação do time, que jogo a jogo afundava cada vez mais. A sonhada virada estava longe de acontecer. A pá de cal sobre o Lobão ocorreu no jogo contra o São José de Porto Alegre, quando perdemos por 2 x 1. Estávamos lá, naquele fatídico domingo de 16 de maio de 2004. Eu na arquibancada e Aleixo longe dela, na parte diretiva do Clube, que assumira às pressas em abril, na malograda tentativa de arrancar o Clube do inferno anunciado. Decepção de um homem que, conhecedor das agruras da Segunda Divisão, tinha em seu currículo a proeza de já haver arrancado o áureo-cerúleo da condição de rebaixado, em 1980. Sim, Aleixo presidira o Clube naquela vitoriosa campanha, deixando o Lobo da Bento Gonçalves no lugar de onde jamais deveria ter saído. O destino, portanto, caprichoso e manipulador, vinte e três anos após o Clube ter se evadido da Segunda Divisão, em 1984, escolheu-o para ser o “comandante” da “nave” áureo-cerúlea que, hoje, singra mares tempestuosos em direção à elite do futebol gaúcho, em condição extremamente mais favorável. Coincidência? Duvido. O destino escolheu-o porquê tem carisma. O calmo e compenetrado Aleixo da arquibancada, dos bastidores; o capitão Nemo de tantas e vitoriosas campanhas, eleito para presidir o Clube neste importantíssimo momento de sua quase centenária história, é o melhor dos augúrios. “Ganhamos hoje?”, ele perguntaria comendo tranquilamente seu amendoim. “Vamos ganhar, presidente.”, eu responderia bastante animado. O destino quer. O destino pede.
Manoel Soares Magalhães.

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

A sogra outra vez.

No jogo contra o Sapucaiense, que promete jogar final de Copa do Mundo contra o Pelotas, sábado às 15h30min, não poderemos contar apenas com a ajuda da sogra do presidente do clube. Ou alguém duvida de sua presença em campo, enfiada meio aos beques, dando botinada até na imagem do Senhor Morto? Nosso atacante matador, Jorge Preá (que não contará com seu companheiro de ataque Flávio Dias, suspenso pelo terceiro cartão amarelo), que anda suspirando pelos cantos como um Romeu apaixonado, experimentando imensa e dolorida saudade de gols, deve contar, evidentemente, com a ajuda da sogra, assim como Michel, na partida contra o Internacional de Santa Maria, 1 x 0 para nós, contou, colocando o Lobão na liderança com um gol que teve a colaboração desta impoluta senhora. Mas não basta tão-só contar com a sorte. E se a sogra, assim como os beques, estiver num bom dia? Os atacantes (Preá e Michel, o Ungido - que entra no lugar de Flávio), driblam um, driblam dois, saçaricacam pra cá, saçaricam pra lá, e chutam a bola na esperança de que ela, caprichosa, conte com a ajuda de um beque distraído e com a colaboração da sogra, que, entre uma tricotada e outra, manda a bola às nuvens. Só assim não. Um time não vive só de acasos. Os atacantes, assim como os demais jogadores distribuídos em campo, têm de prescindir deste tipo de ajuda. Precisam construir jogadas dignas também de um decisivo jogo de Copa do Mundo. Elas têm de serem efetivas, bem organizadas no meio de campo, a fim de que a pelota chegue aos atacantes redondinha, macia e cheirosa, deixando os zagueiros e a sogra a ver navios.
A vitória contra o time de Sapucaia, nosso velho e difícil conhecido, tem de ser construída no detalhe. Não naquele drible a mais; naquela firula desnecessária. Não. Tem de ser estabelecida tendo como base a fria e objetiva eficiência de um verdugo, que não hesita em separar a cabeça da vítima do tronco. Jogar bonito, sim. Mas, antes, jogar eficientemente da zaga ao ataque. Pena que nosso maragato Rudi esteja fora do jogo. Ele, com seu jeito de lenhador bigodudo, dá segurança lá trás e, sobretudo, dita ritmo ao jogo. De quando em quando se atira à frente com ímpeto de espermatozóide, disposto a chegar ao óvulo e erguer a taça da fecundação. Rudi irá fazer falta, claro, mas temos peças de reposição. Marcelo Oliveira não comprometeu contra o Ipiranga de Sarandi. Certamente estará lá trás, atento, bloqueando o ataque inimigo. A questão, senhores, é só uma. Se Axel e Goiano, ambos rodados e experientes, resolverem trabalhar com a eficiência de garçons franceses, servindo os atacantes como manda o figurino, os gols serão construídos sem a ajuda do acaso, ou melhor, da sogra. Quanto ao comandante, cuja competência vem sendo demonstrada até aqui, salvo uma ou outra invenção desastrada, tem por obrigação de fazer um time ofensivo. Desfile de volantes de contenção em carro alegórico, não. Jogamos em casa e precisamos pontuar. Não tem desculpa. O Sapucaiense vem a Pelotas para ganhar. A fumaceira vai ser grande. Perfeita a decisão da diretoria em vender o ingresso mais barato até às 20h de sexta-feira, a R$ 7,00. Precisamos lotar a Boca. A torcida, por sua vez, promete fazer a sua parte como tem feito até aqui, fazendo as arquibancadas tremer como nunca até então tremeram. Ah, se necessário, com a ajuda da sogra, claro.
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Manoel Soares Magalhães.

Tiro no pé.

A inesperada vitória do Ipiranga de Sarandi, 1 x 0 sobre o Pelotas, sábado à tarde, incendiou o jogo do Lobão x Sapucaiense, sábado próximo na Boca. Penso que além do efetivo da Brigada Militar, deve se fazer presente também ao estádio o Corpo de Bombeiros, o qual, certamente, terá muito trabalho para controlar as “chamas” do duelo que promete ser dramático. Perdendo para o Sarandi, o áureo-cerúleo jogou pimenta malagueta no próprio prato, queimando-se até a alma. O tiro que tinha de ser disparado contra o adversário, foi dado no próprio pé. Uma trapalhada e tanto. Até o mais pessimista torcedor não imaginava tamanha falta de “pontaria”, provando-nos que, em termos de segundona, pouco drama é bobagem. A competição, sem dúvida, após esta rodada, ganha cores de tragédia grega. O Pelotas começou o jogo disposto a resolver as coisas rapidamente. Mas, por um desses caprichos do futebol, a primeira bola desferida contra o patrimônio de Cássio foi dormir no fundo da rede. Gol com sabor de melodrama, evadido das ondas do rádio para alojar-se no peito do torcedor áureo-cerúleo, despejando ainda mais negrume no já cinzento sábado.Começávamos a viver um pesadelo que, na última crônica, julguei possível se o Lobão não se cuidasse diante do franco-atirador de sangue doce, que, até então, nada fizera de prático para fugir da lanterna. Nossos matadores, Flávio Dias e Jorge Preá, não acharam o caminho do gol. Andaram às tontas, divorciados dos meias de ligação, Axel e Goiano, perseguidos pelos volantes adversários, que chutavam tudo, inclusive a bola.
O comandante, mexeu e remexeu no time, mas o escore não foi alterado. O destino do Lobão estava traçado: perder. É difícil perder. Mais difícil ainda é perder para o lanterna da competição, que prometeu ao longo da semana fazer o “crime” contra o Pelotas. Muitos hão de arrazoar que o time entrou em campo de salto alto, presa de euforia, fazendo pouco caso do adversário. Não acredito nisso, até por que Agnaldo Liz e a direção do Clube cobram de seus comandados humildade, tendo uma resposta positiva quanto a isso. Outros dirão que o problema foi o campo pequeno, inadequado para a bola rolar. A falta de sorte, também, será lembrada, bem como o desfile de volantes em carro alegórico, tornando o time, em vez de ofensivo, defensivo. O fato é que o Lobão foi a Sarandi e tomou um indesejável banho na “fonte”. Mas não há motivo para desespero. Ainda somos líderes. E, na pior das hipóteses, acabaremos a rodada em segundo lugar, caso o Santo Angelo ganhe do Rio Grande amanhã, segunda-feira. Portanto, nada de se escabelar como noiva abandonada no altar. É imprescindível manter o foco e a concentração, sobretudo a pegada que o time vem tendo ao longo da competição. Ganhando do Sapucaiense no sábado, jogo de seis pontos, estaremos outra vez na ponta da tabela. Partida dura, com lances shakespearianos certamente. Haja coração!
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Manoel Soares Magalhães.

Dor de cotovelo.

O grande problema do zagueiro é a dor-de-cotovelo. Não que se sinta amargurado, pensando na amada que se mandou para os braços do amante – talvez um atacante matador. O cotovelo dói porque, aliado aos pés, faz parte do seu “arsenal” de trabalho. Usa-o quando a necessidade se impõe, e não raro o faz com mestria. O adversário cai de cara no chão, atordoado, imaginando haver sido atropelado por um elefante de safári. O árbitro, considerando as circunstâncias do jogo, apita ou não a falta. Caso não apite, com a maior cara de pau considera a “marretada” coisa do jogo. O zagueiro, portanto, é soberano em seu feudo, defendendo-o a qualquer custo – ainda que o preço seja engessar sua marreta – ou melhor – seu cotovelo dolorido. No pensem os senhores que esta eficiente “arma” de ataque e contra-ataque é privilégio de zagueiros. Não. Os volantes de contensão também a usam, e não raro com competência. Não são, digamos, puristas da profissão, pois, além da dura atividade que desempenham a frente da zaga, têm lá suas veleidades de meias (os “intelectuais” do time, responsáveis pelos lançamentos, pela elegância e cadência do jogo). Graças, então, a condição de contendores, garroteiam a carantonha dos adversários. Em razão de não ocuparem o feudo dos zagueiros, a grande e a pequena área, onde a falta é punida com a penalidade máxima, os árbitros normalmente punem essas cotoveladas com mais regularidade, até porque precisam mostrar serviço. Penso que o futebol, herança bretã, jamais abrirá mão da dor-de-cotovelo.
Custo a crer que os zagueiros, os volantes de contensão, inclusive os jogadores de frente, cuja habilidade parece residir tão-só nos pés, venham um dia a deixar de lado este expediente num instante capital da partida. Quem gosta de futebol, e o praticou, sabe que o cotovelo é algo difícil de se controlar. Imagino que, na abertura do retorno do decisivo octogonal da segundona, os zagueiros e os volantes de contenção (e os homens de frente), mais que nunca estarão dispostos a exercitar seus respectivos cotovelos. Afinal. Esta em xeque o destino de seus clubes na competição. O Lobão, líder isolado, jogará sábado contra o Ipiranga de Sarandi, no estádio Fonte Sarandi, com o retorno do guerreiro Rodrigo Gasolina e Thiesen (defecção do maragato Rudi, expulso no jogo contra o Internacional de Santa Maria). O jogo parece fácil, pois seu adversário segura a lanterna da competição. Porém, quem nos assegura que seus zagueiros, seus volantes de contenção e os demais jogadores não queiram vir para cima dos “charruas” da Boca com seus cotovelos em riste, dispostos atrapalhar a vida do líder? Isso vai acontecer, sim. O Lobão que se cuide, pois o Ipiranga, de sangue doce, quer aproveitar-se da “fonte” Sarandi para dar um banho de água fria no Pelotas.
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Manoel Soares Magalhães.

Michel, o ungido.

Existem gols que se realizam inicialmente em sonho. Depois se materializam em campo e explodem na arquibancada. Aconteceu exatamente isto segunda-feira à tarde na Boca, pelos pés de Michel aos 35 minutos do segundo tempo, quando o jogo entre Pelotas e Internacional de Santa Maria estava encardido. Voltemos, entretanto, levemente no tempo, antes de entrarmos nestes detalhes. Senhores, que surpresa fantástica a presença da torcida áureo-cerúlea na fria tarde de agosto, vento sul soprando insistentemente. Se alguém ainda desconfiava de que nós torcedores não estamos unidos ao time, é de bom alvitre pensar de forma diferente. Que espetáculo a parte! Aliás, a promoção de levar um amigo ao estádio e pagar tão-só uma entrada caracterizou-se pelo acerto, contabilizando-se cerca de 4.500 torcedores em estado de graça. Havia em cada rosto, jovem ou velho, o mesmo entusiasmo e vibração. No fundo da carótida a determinação de ver o time, mais uma vez, vitorioso. Quanto ao jogo, começou pegado, com jogadas ríspidas de ambos os lados. Uma partida que se fazia no meio de campo, congestionando-o. O Lobão, consciente de que precisava ganhar, pois jogava contra um adversário direto na disputa por uma das vagas de acesso à Primeira Divisão, buscava insistentemente o gol. O time de Santa Maria, porém, bem distribuído em campo, oferecia resistência, não deixando passar nem pensamento. Se olhássemos bem, provavelmente veríamos entre os beques o presidente do Inter e sua veneranda sogra, dando chute para todos os lados. Flávio Dias e Jorge Preá, nossos “matadores profissionais”, bem marcados pela sogra, não conseguiam levar real perigo ao gol de Luciano.
De Repente, numa jogada de rara beleza plástica, Rudi, nosso comandante charrua (que seria depois expulso de campo na companhia do atacante inimigo Alê Menezes, após troca de “carícias”), partiu em direção à zaga contrária, disposto a invadir a baliza que a sua frente se descortinava. Entretanto, resolveu chutar a bola, a qual, caprichosamente, carimbou um zagueiro, frustrando seu plano de conquista, e, claro, frustrando-nos dos cabelos aos sapatos. Ai foi a vez de Axel protagonizar jogada de cinema. Aos 43 minutos, Goiano bateu escanteio pelo lado esquerdo. A bola traçou linda parábola no ar e foi de encontro a Axel que, de surpresa, cabeceou em direção ao ângulo da goleira de Luciano. Edinho Matos, entretanto (ou seria a sogra?), interceptou a trajetória da bola, evitando o que seria o primeiro gol do Pelotas. O grito de gol se alojou na nossa garganta como um abacaxi com casca. No segundo tempo, o Lobão voltou mais determinado, encurtando os espaços do time contrário. O futebol do lateral Cleiton se manifestou de forma límpida, translúcida. Em duas oportunidades deixou os homens de frente cara a cara com o goleiro. No primeiro lance Jorge teve a bola a sua feição, mas a sogra, entretanto, gritou que ele era um cabeça-de-bagre. O atacante se desconcentrou e a “mandou” por cima do travessão.
No segundo lance, fez um cruzamento, descobrindo Douglas desmarcado perto da pequena área. Desajeitado, cabeceou para fora, aumentando o tamanho do abacaxi que se alojara em nossa garganta. Aquela altura do jogo sentíamos cheiro de tragédia no ar – que se anunciara em outras ocasiões e se cumprira. O Internacional, aproveitando-se deste péssimo augúrio, jogou-se a frente com mais ímpeto, levando perigo ao arco defendido por Cássio. A arquibncada trovejou como um deus druídico pedindo Michel, pois antevia iminente apresentação de trágica opereta na Boca. Agnaldo Liz, que não é bobo nem nada, pois sabe que a voz de Deus e a voz do povo, sacou Preá do time, enviando-o mais cedo para o banho. Douglas o acompanhou, entrando em seu lugar Vicente, vindo de lesão. Michel, o Décimo Segundo Mandamento de Moisés, entrou em campo ovacionado. Pois é... Ele realizou seu gol quando o estádio inteiro se imaginava protagonista de uma grande e triste ópera. O presidente do Internacional e sua excelentíssima sogra já comemoravam o torpe empate. Eis que o ungido Michel, numa brilhante jogada, fez o que todos nós esperávamos que fizesse, isto é, que materializasse o sonho tão bem urdido no recôndito da concentração.
Livrando-se de três marcadores, chutou em direção ao gol. Para nossa felicidade, a bola desviou na sogra e entrou no cantinho da baliza de Luciano. O sonho de Michel explodiu meio a torcida como uma chuva de estrelas, levando o torcedor ao nirvana. Empoleirado na tela de proteção, ergueu o punho fechado para o céu, abrindo um dos mais luminosos sorrisos já visto na Boca do Lobo. Sentimos ímpeto de agarrá-lo e, num cortejo de exaltação, carregá-lo pelo campo. Portanto, numa atípica tarde de segunda-feira, voltamos para casa mais líder que nunca... Um pouco mais próximo do nosso objetivo. Se apurássemos bem nossos ouvidos, meio aos gritos de entusiasmo da torcida áureo-cerúlea, ouviríamos um sentido pranto... O choro da sogra do presidente do Internacional de Santa Maria, acompanhado, evidentemente, de seus profundos suspiros.
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Manoel Soares Magalhães.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Lembrando Ari Amaro, o Bedeu.

Somos seres de esquecimento. A vida flui em seu mesurado passo e, por desígnios do Criador, apagamo-nos tal qual uma tela que se vai despintando até sumir por completo. Temos, entretanto, lembranças que se afixam a tela teimosamente, num tocante ímpeto de permanência. Refiro-me as lembranças seminais, afixadas em nossa mente pelas cores da infância. Essas, creio, serão os derradeiros traços da obra que se vai aos poucos diluindo. No panteão de nossa memória, os heróis ocupam lugar de destaque. Figuras cujos feitos estabeleceram as bases de nossa personalidade, dando-nos segurança para a caminhada que se ia começar. Dentre esses heróis, claro, há nicho especial para os craques da bola. Lembro-me de um em especial. Trata-se de Ari Amaro Pires, o Bedeu. Eu tinha 6 anos quando o vi jogar pela primeira vez na Boca. Ponta direita habilidoso, dotado de força e velocidade, Bedeu deixou no gramado o registro de um futebol com acento poético. Da escola de um Garrincha, Ari Amaro não jogava, mas brincava com a bola, endereçando-lhe destinos inimagináveis, acirrando a truculência dos zagueiros que, suando pregos, tentavam caçar a “pantera negra”. Natural de Arroio Mala, Herval, começou nas divisões de base do Lobão nos anos 50, e, pasmem, como ponteiro esquerdo. Em 1953, surpreendeu jogando pela direita, reforçando a certeza de que havia nele qualidades de um jogador diferenciado, cheio de breque e malícia. Jogou como titular até final dos anos 60, indo em 61 para o Internacional de Porto Alegre. Após rápida passagem pelo Metropol, retornou a Pelotas em 1963, onde encerrou a brilhante carreira. Bedeu, penso, foi jogador de um só time, o Esporte Clube Pelotas, que o acolheu desde sempre. Quando se afastou da Boca, imagino, sentia-se deslocado, meio órfão, não conseguindo executar as “parábolas” que sua mente criativa imaginava. Por isso retornou ao “berço” e não mais o abandonou.
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Aliás, viveu até o fim no estádio, onde a direção, em retribuição ao muito que fizera pelo Clube do coração, ofereceu-lhe permanentemente morada, seu particularíssimo Olimpo. Ari Amaro, portanto, nos dias de jogos, singrava o estádio com seu passo dançarino, envergando terno e gravata. Aliás, era do tempo em que se ia à padaria de terno e gravata. No fim da vida, já doente, andava pelas ruas da cidade falando consigo mesmo, tentando convencer-se de sua grandeza, um autêntico e macilento herói chapliniano, conhecido dos botecos da cidade, principalmente o Bar Cruz de Malta, seu reduto. Sempre sorrindo, teimosamente elegante, espargia gasta e melancólica sobriedade a quem quer que fosse, conhecido ou desconhecido, falando das glórias de seu passado. Era de uma alegria infantil, ingênua. Um anjo caído, certamente, a peregrinar pela existência dura como o granito. Ah, amigo, domingo tem jogo na Boca... Pelotas x Internacional de Santa Maria. Boca que assistiu teu balé, que se contagiou com a alegria do menino interiorano. Em campo jogadores que se candidatam a permanecer na tela mental dos torcedores de hoje, que pulam e cantam na arquibancada. Imagem que o tempo, implacável, encarregar-se-á de apagar lentamente, assim como já apagou a “pintura” do grande Bedeu na memória de muita gente. Cássio, o guarda-metas, o guarda-valas, o goal-keeper do áureo-cerúleo, candidata-se a ser o “herói” do Pelotas nestes duros e sombrios anos de segundona gaúcha. Observar Cássio defendendo a baliza áureo-cerúlea, com certeza avivará em mim a lembrança de Ari Amaro, falecido a 20 de agosto de 2002, há cinco anos atrás, aos 67 anos, vítima de insuficiência cardíaca. Sobretudo sentir-me-ei menino outra vez.
Manoel Soares Magalhães.

Jonas e o goleiro.

A solidão do goleiro em seus domínios assemelha-se a solidão de Jonas enfiado no estômago da baleia. São estados de ser co-irmãos, que se compreendem, compartilhando o mesmo e comovente drama existencial. Jonas, para quem não sabe, foi um desobediente servo de Deus. O Criador pediu-lhe que fosse a Nívive, onde os homens praticavam o mal, e lhes dissesse que seriam castigados. Para escapar do assédio do Ser Supremo, Jonas embarcou num navio que ia para alto mar. Entretanto, com receio de que Deus o visse, abandonou o convés, onde estivera apreciando um belo dia, e foi deitar-se no porão da embarcação. O Criador, porém, estava de “olho” no fujão. Irado, fez desabar sobre o mar forte tempestade. Jonas, adormecido, não desconfiava do perigo que se lhe ameaçava a vida. Entretanto, um marujo foi acordá-lo, pedindo-lhe ajuda. O profeta subiu ao convés e, num súbito esclarecimento, percebeu que a tempestade fora causada por ele, por sua desobediência a Deus. Pediu, então, que fosse jogado ao mar, intuindo que, com isso, a tempestade ir-se-ia em direção ao horizonte. Assim, foi atirado meio aos sombrios vagalhões, e a tempestade amainou. Deus, para salvar seu servo, enviou-lhe grande baleia, que o engoliu. Recebeu a incumbência de ir a Nívive e cumprir a profecia de que a cidade seria destruída num prazo de quarenta dias. Durante a viagem, Jonas, aprisionado ao ventre da baleia, refletiu sobre sua inicial recusa, tendo como companhia a solidão lhe roendo por dentro. Com relação ao goleiro, a exemplo de Jonas, tem sua existência limitada à pequena e grande área, refletindo sobre a missão de salvaguardar sua baliza.
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Evidentemente que pode ir além destas fronteiras, dependendo da circunstância do jogo. Tal decisão, porém, pode custar-lhe caro em demasia, ou, em caso de sorte, aumentar-lhe a fama de ungido pelos deuses. Para este personagem – assim como para aquele outro – não existe meio termo. Será ovacionado pela arquibancada como um deus mitológico, ou, na pior das hipóteses, ver-se-á apedrejado e queimado em praça pública como um Judas de Sexta-feira Santa. A decisão, que será redentora ou sacrificadora, foi pensada na mais tensa e carnívora solidão. Imaginemos a cena. O jogo começou. Cássio, aquecido, alerta, observa seus companheiros em campo. Seus olhos não piscam, coração rufando como um surdo. Sente-se de corpo presente, mas, em verdade, sua alma ocupa outro espaço tempo, aprisionada a mais pesada e espasmódica solidão, semelhando Jonas a caminho de Nívive. De repente o lance. Urge abandonar seu minifúndio às pressas. O resultado da decisão, como já foi dito, o consagrará ainda mais, ou, no mínimo, o transformará num perdedor. Imaginem se ele tivesse pego um dos dois pênaltis convertidos contra o Pelotas no Jogo das Missões? Estou certo de que aumentaria alguns centímetros a altura da estátua de corpo inteiro que o clube, penso, deve erguer na Boca em sua homenagem. Realmente é dura a vida do goleiro. É penosa a existência dos “profetas” de Deus. Ambos, cada um em sua pecurialidade, estão à merce de intraduzível solidão.
Manoel Soares Magalhães.

O príncipe etíope.

O homem realmente é um ser de contrastes. O mesmo Alexandro Goiano que desfilou pelo campo como uma viúva chorosa no jogo contra o Grêmio Bagé, sem produzir nada de concreto – cujo escore não passou de um subnutrido 1 a 1, foi o grande nome do Pelotas contra o Santo Ângelo, no domingo à noite. Arrebentou. Tal mudança de comportamento renova minhas esperanças no gênero humano. Podemos mudar, sim. Não duvidem disso. Somos vistos às vezes como defeituosas peças de uma engrenagem. Entretanto, como num passe de mágica, seremos a solução desta mesma engrenagem. É o caso de Goiano. Contra o Bagé teria sido vítima da cusparada de um torcedor exaltado, que abandona o estádio disposto a roer um poste de concreto, tamanha é a raiva que se lhe embota o espírito. Mas, este mesmo atleta, após o jogo em Santo Ângelo, ver-se-ia carregado por ululante torcida como um príncipe etíope. O destino, caprichosamente, elegeu-o vilão, e no decorrer de uma semana transformou-o em “self-made man”. Desde os primeiros minutos de jogo vimos que ele estava cingido por uma aureola luminosa, deixando rastro por onde quer que passasse. Determinara-se a incomodar o adversário, incendiando o embate do líder com o vice-líder, “batalha” campal travada por autênticos gaúchos, cuja trilha sonora irrompia da arquibancada, misturando-se ao tinir de espadas. Não haviam transcorridos três minutos a bola já andava rondando perigosamente a área do goleiro Márcio.
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Primeiro foi um cruzamento de Jorge, visando Flávio Dias que chegou atrasado. Logo a seguir Thiesen experimentou de longe, e se não fosse o “quase” teria aberto o placar. O Santo Ângelo, entretanto, impôs-se em campo, fazendo o áureo-cerúleo ceder terreno. O Lobão, porém, através de Goiano, insinuante como uma naja, atemorizava a zaga inimiga. Aos 36 minutos, o cobrando falta, o príncipe etíope abriu o placar. A bola entrou no ângulo de Márcio, que se esticou todo mas nada pode fazer. Foi uma chuva de água fria no ímpeto do Santo Ângelo, que, atrás no placar, foi em busca do empate. Goiano, entretanto, mantinha-se dono do jogo, construindo jogadas de encher os olhos de mel. A zaga áureo-cerúlea, firmemente postada à frente de Cássio, dava conta do recado, às vezes de forma mais dura, levando o árbitro Fabrício Neves Corrêa a amarelar a vida de Rudi, Rodrigo Gasolina e Thiesen (que deixaria rubro de inveja o leão da Metro diante de sua determinação em campo). Tal ímpeto defensivo levou os defensores do Lobão a pensarem duas vezes antes de abrir a “caixa de ferramentas”.
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Alexandro Goiano, aos 44 minutos, em outro instante de inspiração, deu açucarado passe a Douglas, que fez o previsível: enfiou a bola na rede. Dois a zero no placar fora além da previsão do mais otimista torcedor. O destino, porém, destinava à “batalha” cenas de ópera. Antes de o árbitro finalizar o primeiro tempo, o zagueiro Adilson, num lance infeliz, derrubou um adversário na área, decretando penalidade máxima. Um frio glacial percorreu a espinha dos torcedores grudados ao rádio. Quando Quito correu em direção da bola, o ar ausentou-se de nossos pulmões, sufocando-nos. A bola, como “favorita” de um paxá, acomodou-se no fundo das redes de Cássio, que nada pode fazer. 2 a 1. O segundo tempo começou com o Lobão sendo atacado pela artilharia inimiga. Cássio, mais uma vez, fez seus costumeiros milagres.
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Goiano, inspiração e transpiração do Pelotas, deixou o campo de maca. Guilherme entrou com a responsabilidade de fazer a bola girar, mas, em verdade, quem girou foi ele, não encontrando o que procurava. O destino do time de Agnaldo Liz, àquela noite, seria sofrer outro gol de pênalti. Rudi, zagueiro experiente, disputou a bola dentro da área com Marcinho Galvão, o qual, como derradeiro recurso, mergulhou no chão. Eram 39 minutos. O árbitro marcou falta. Um frio siberiano nos prendeu à cadeira, à cama. O ar, que já era pouco, sumiu de vez. Era o lance que faltava para dramatizar ainda mais a ópera. Quito, o solista da noite, convidou outra “favorita” a dormir no harém do paxá. 2 a 2 era o placar da “batalha”, que se estenderia quase aos 50 minutos. Sobrevinha da arquibancada gritos de entusiasmo e cólera, empurrando os “guerreiros” do Santo para cima dos ´do Santo para cima dos a gritos de entusiasmo e de frustraç “charruas” pelotenses. Todavia, o destino da peleja seria realmente 2 a 2. Um empate histórico.
Manoel Soares Magalhães.

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Com tédio ou sem tédio.

O domingo tem um sabor de preguiça. Não raro acossá-nos a vontade de permanecer com aquele pijama levemente manchado, que se afeiçoou ao nosso corpo e conhece nossas idiossincrasias. Peregrinamos pela casa, olhar lasso, fixando as coisas por fazer. Ah, aquela torneira pingando, a privada vazando água, a grama por aparar, a fechadura daquela porta que teima em não fechar... E a goteira que a patroa vem reclamando? Silêncio segregando tédio. Humor a meio pau. Este cenário desolador ocorre, com exceções, evidentemente, se tivermos passando dos cinqüenta. Acaso ainda não tenhamos atingido meia centúria de existência, as preocupações são outras, menos domésticas, talvez. Somos compelidos, então, a calçarmos um tênis, vestirmos àquele abrigo algo surrado, e, à feição dos felizes, desbravamos o bairro, a cidade com garbo de conquistador. Nosso olhar ainda é de “caçador” à procura de presa. Ainda há esperança em nosso olhar, que, em cada esquina, brilha de expectativa. Mas, independentemente da idade, todos aqueles que gostam de futebol, têm motivos de sobra para saborear o domingo como um bolo de chocolate. À frente da tevê, ou através das ondas do rádio, espantamos o tédio que se apossou de nós ao longo do domingo, que se arrastou pela casa como uma tartaruga das ilhas Galápagos. Os torcedores do Lobão têm encontro com o rádio, às 19hs. Santo Ângelo e Pelotas jogam pela sexta rodada do octogonal da segundona de profissionais. E, transbordando otimismo, estaremos atentos. Afinal, o Lobão vai a esta longínqua paragem defender a liderança e a invencibilidade extremamente suadas. Estamos convictos de que, em campo, os comandados de Agnaldo Liz venderão muito caro até mesmo o empate. Derrota, então, tem preço inimaginável. O time de Santo Ângelo terá de pagá-lo se quiser vencer o encontro de líder e vice-líder. Um domingo para defendermos nosso Eldorado. Com tédio ou sem tédio ficaremos ao pé do rádio, atentos.
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Manoel Soares Magalhães.

Exercício de transcendência.

Força e vigor na arquibancada!

O canto se destaca, no extenso repertório de expressão artistica, como um dos mais belos e emblemáticos. Por séculos vem se constituindo num poderoso meio para que povos, separados por fatores geográficos e culturais, conheçam-se mutuamente, e tenham oportunidade de admirar sons que transitam do exótico ao clássico sem muita estranheza. Nascido por uma imperiosa necessidade de comunicação, tanto de homens como de animais, o canto acabou invadindo outros terrenos. O estádio de futebol, por exemplo, transformado em poderosa arma de incentivo e beleza. Dentre inúmeras ações positivas na vida do Lobão este ano, a criação da torcida Unidos por uma Paixão é, indiscutivelmente, uma das mais felizes. Com faixa azul e ouro estendida na arquibancada, lembra os ruidosos torcedores do time argentino, Boca Junior, inclusive na forma de cantar e pular. Assisti a dramática partida entre Bagé e Pelotas ao lado desta recém inaugurada torcida, e, asseguro com convicção: não existe possibilidade de resistir ao entusiasmo que brota, vital e veementemente de suas escancaradas gargantas. Que experiência fantástica, beirando ao sublime. Vi-me soltando a voz e dando pulos como aqueles jovens, apaixonados até a medula, capazes de empurrar o time em qualquer circunstância, favorável ou desfavorável. Quando Leandro Guerreiro fulminou Cássio, eles não esmoreceram. Contra atacaram imediatamente com mais veemência, expressão bafejada pela paixão, revigorando o ânimo dos jogadores. Senhores, estes jovens, ainda que disso não se apercebam, promovem na arquibancada inequívoco exercício de transcendência. Agitando bandeiras, animados por cânticos de exaltação, transformam os jogos num raro espetáculo de fé coletiva. Há muito não me sentia tão eletrificado, absolutamente catalisado pela emoção gerada no âmago de seus apaixonados corações. Minha aposta é no sentido de vê-la crescer, impressionando velhos e impedernidos torcedores, cujo hábito é de ficar sentado na arquibancada, comendo amendoim e pipoca, às vezes bocejando de enfado. Fico imaginando o tamanho da festa que se fará ano que vem, quando o Lobo, graças a campanha que vem fazendo no octogonal, finalmente, estará no convívio dos grandes do futebol gaúcho.

Manoel Soares Magalhães.

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Jogo dramático na Boca.

O lobão, contra o Grêmio Bagé, teve um primeiro tempo brechtiano. Tomou um “banho” de bola do time da fronteira, com direito a talco nas “dobrinhas”. Graças aos milagres do goleiro Cássio – que anda merecendo estátua de corpo inteiro na Boca – o time de Agnaldo Liz safou-se de retumbante “chocolatada” sob carrancudo céu de domingo. A rigor, o áureo-cerúleo chutou uma bola em direção à meta de Roger. O tiro foi desferido por Jorge Preá, que tentou de letra, mas a bola, caprichosamente, cobriu o travessão. Alexandro Goiano, transpirava em campo sem inspiração; parecia inconsolável viúva procurando desesperadamente por companhia. Acredite, ele “furou” em bola na sala de visitas do goleiro Roger, no que poderia ser o primeiro gol do Pelotas. Rodrigo Gasolina, eficiente em outras jornadas, jogando como zagueiro, frustrou e frustrou-se, acorrentado à zaga. Poderia, acaso estivesse mais adiantado, servir os atacantes com seu já conhecido talento. Douglas, substituindo Axel, que se recupera de lesão, mostrou vontade sem criatividade. O Lobão foi para o intervalo sentindo as costas o peso de um madeiro. Senhores, diante deste improdutivo primeiro tempo, verdade incontestável se revela. O atacante Michel é imprescindível ao ataque do Pelotas, devendo constar nas Tábuas da Lei de Moisés. Substituindo Preá – que não se achou em campo – Michel desarvorou a zaga do Bagé. Em menos de seis minutos o Lobão conquistara três escanteios, levando perigo ao patrimônio do Bagé. Mas, como quem não faz, leva, Leandro Guerreiro, num descuido da zaga, aos 13 minutos, fuzilou Cássio. Um a zero no placar. Fria chuvarada despencou sobre a torcida áureo-cerúlea. Céus! O inacreditável estava acontecendo. Perplexidade em cada rosto. Medo. O jogo reiniciou ainda mais nervoso e pegado, empurrado pelos gritos da arquibancada. Flavio Dias, aos 23 minutos, iluminou-se de súbito, quase marcando o gol de desempate. Gol que viria aos 26 minutos através de Michel, que, endiabrado, levou a bola quase à bandeira de escanteio, acossado por dois zagueiros, e cruzou. Douglas, que fizera um mal primeiro tempo, estava na hora certa no lugar certo. Antecipando-se na jogada, enfiou a bola na rede. O grito de gol que sufocava a torcida, explodiu. Um a um no placar. O jogo, a partir de então, adquiriu contornos ainda mais dramáticos. Insuflado pela reação, o Lobão atirou-se à frente a toque de caixa e clarins. Foi desferida contra a meta de Roger inequívoca saraivada de bolas. O chapéu que Flávio Dias deu num zagueiro, deixando-o envergonhado para o resto da existência, certamente ficará gravado na memória dos torcedores. Não bastasse a ousadia do feito, carimbou o poste esquerdo do perplexo Roger, gol não acontecido por questão de detalhe. Merecia lograr êxito, suscitando a inauguração de uma placa na Boca do Lobo. Roger, inspirado em Cássio, operou milagres por duas ou três vezes mais, passando o ferrolho na porta. A tão sonhada virada no placar não aconteceu. Poderia, claro, se o árbitro Leandro Vuaden não tivesse fechado seus olhos de mercador à penalidade que o “matador” Flávio Dias sofreu, dentro da pequena área. Preferindo não se complicar, pediu a bola e encerrou um dos mais dramáticos jogos da temporada na Boca. Entre Pelotas e Bagé a história não poderia ser outra.
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Manoel Soares Magalhães.

sábado, 4 de agosto de 2007

Com unhas e dentes.

Pra cima do Bagé, Lobo!

Há muito que joguei no fundo da gaveta meus sonhos de grandeza. Jazem como figurinhas enodoadas de tempo. De quando em quando vou lá, entreabro a gaveta e olho para dentro. Um olhar extraviado percorre as minúcias, revirando-as mentalmente. Depois, enfadado, rodopio sob os calcanhares, e me afasto. Que fiquem fechados, pegando pó. É pra isso que servem, afinal, os sonhos de grandeza.
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Entretanto, sem que planejasse, volto à gaveta. Abro-a e fico olhando, tentando entender o mistério de assim permanecer, hirto, na vã contemplação. Decididamente o nicho de velharias não é mais o mesmo. Há, meio ao bolor que se apossou dos objetos, algo estranho. Uma novidade que, pouco a pouco, veste-se de primavera. O que será? Já arrisco mexer numa coisa ou outra, buscando resposta.
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Quarta-feira passada, após o Lobão haver vencido o Vovô por um gol a zero, tive a iluminação. Era isso! Voltara a sonhar com a possibilidade de ver o áureo-cerúleo evadir-se do abismo em que mergulhara. Tornei a gaveta, às pressas. Abria-a e olhei. Derramei o mais longo e meloso olhar em seu interior, devassando-a total e inteiramente. Sim! Voltara a sonhar com ímpeto de jovem, que sonha sonhos ao som de fanfarras.
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Considerando a campanha do Pelotas até aqui, o sonho não me parece inconcebível, pois, nesse gênero de competição, muito pegada e sofrida, fazer 100 por cento em quatro jogos enche de entusiasmo qualquer renitente torcedor. Domingo, contra o Grêmio Bagé, o áureo-cerúleo põe em xeque esta invejável condição, a exemplo de um campeão de boxe que, ao desafiar alguém, coloca em disputa seu cinturão. Urge dizer que não será jogo fácil, não. O embate entre pelotenses e bageenses, em termos de futebol, é de lascar. Não raro o bola sofre como solista de ópera, deixando um rastro de lágrimas no gramado. No último encontro, na Boca, dava impressão de que, a qualquer instante, um jogador deixaria o campo de maca sob o som de uma cantada fúnebre, tamanha a violência dos lances. Imagino jogos como esses apitados não por um árbitro, via de regra amedrontado, mas pela polícia de choque. Ainda assim haveria instantes em que os policiais, diante da ferocidade dos zagueiros, desejariam abandonar os gramados às apalpadelas, absolutamente zonzos. Portanto, domingo, jogando feio ou bonito – abrindo mão da violência – o Lobão defenderá com unhas e dentes seu “cinturão”. Que assim seja.
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Manoel Soares Magalhães.

Agnaldo Liz, o disciplinador.

Quando o técnico Valmir Louruz pediu as “contas”, a 2 de maio, a notícia caiu na Boca como uma bomba. O “professor”, alegando compromissos particulares, abandonou o barco em plena e tumultuada navegação. Ainda que tivesse em mãos um excelente grupo (que se classificara com antecipação à segunda fase da segundona) Louruz, pegou seu “boné” e partiu para Caxias do Sul, alegando que, até aquele momento, não conseguira passar ao time a filosofia que desejara implantar na Avenida, o que acabou gerando insatisfação a ele, ao time e a imensa torcida áureo-cerúlea. Uma tempestade de desconfiança varreu a Boca. Seria o fim do sonho? Estaríamos fadados a passar mais um ano no limbo da segundona? Estas e outras perguntas agitaram torcida e diretoria do Lobo àqueles dias. Entretanto, com serenidade e competência, a parceria AGS e Esporte Clube Pelotas contrataram o técnico Agnaldo Liz, ex-jogador de futebol, zagueiro para ser mais exato. Evidentemente que tal contratação deixou meio mundo com a pulga atrás da orelha, pois o novo comandante desconhecia as agruras do futebol gaúcho, notadamente o abismo da segundona de profissionais. Porém, Agnaldo Liz provou que estávamos errados e César Sampaio, superintendente do Pelotas, que sugerira sua contratação, absolutamente certo. O Lobão, líder absoluto da competição, soube absorver a filosofia de trabalho do ex-zagueiro, cuja melhor qualidade foi fechar muito bem fechado o grupo em sua mão. O cara morre afogado mas não abre a mão. Luis Antonio de Mello Aleixo sorri de si para si, como a dizer: Liz foi uma aposta que deu certo... Estamos quase lá...

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Foto: Agnaldo Liz, comandante do Lobão, excelente tático e bom disciplinador. Tem o grupo fechado em sua mão!

Manoel Soares Magalhães.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Rudi, a raposa do deserto.

Rudi é o nosso zagueiro artilheiro. Não bastasse o melhor ataque da segundona, temos um jogador da linha da zaga que sai para o jogo com vigor de um Rommel, a Raposa do Deserto. No jogo contra o Rio Grande, o Vovô, quarta-feira à tarde, Rudi, mais uma vez aventurou-se em direção ao território inimigo. Numa pequena área entreverada, o zagueiro impôs-se e enfiou a bola na rede. Eram 45 minutos do primeiro tempo. Com este gol – o único da partida – o Lobão ficou mais que nunca na ponta da tabela. Todo bom time tem de ter, em seu elenco, atleta que chega detrás, a famosa “surpresa” que, entre outros fatores, desestabiliza o sistema de marcação do adversário. Rudi, com a experiência de quem conhece todos os íntimos segredos dos gramados, esta sendo o nosso “homem” surpresa. O farnel contém três gols. Pelo andar da carruagem, deduzo que virá mais. O “moço” esta com voracidade de glutão. Se Flávio Dias e Jorge Preá, os tradicionais “verdugos” do Lobão, “dormirem” de toca, o Rommel da Boca candidata-se à artilharia áureo-cerúlea. Isso talvez soe como piada, mas quem duvida? Eu não duvidaria. O homem esta jogando uma bola! Com inspiração e transpiração. Na necessidade, “manda” a bola “pro mato” porque o jogo é do campeonato. Quando não, sai para o jogo, servindo os companheiros com precisão e elegância de um garçom francês. É, por assim dizer, um xerife na zaga áureo-cerúlea, dando segurança ao goleiro Cássio, o Muralha, e, evidentemente, aos demais defensores. Cleiton, cada vez mais aplicado; Bruno Pereira, prescindindo de firulas; e Bruninho, a cada jogo mais elétrico e competente. Assim, o “encontro” de anciões na Noiva do Mar foi vencido pelo Pelotas. Um magro zero a zero que serviu para manter o 100 por cento de aproveitamento e, sobretudo, motivar ainda mais o Lobo da Bento Gonçalves, que, domingo, estará frente a frente com o Grêmio Bagé, que enfiou três gols no Ipiranga de Sarandi. Mas isso é outro assunto.
Manoel Soares Magalhães.

Choro de viúva.

De ontem para hoje tenho pensado muito em Nelson Rodrigues e em suas sublimes crônicas, consciente de que posso chegar, tão-só, a altura de seus tornozelos, tamanha era a inspiração e a genialidade coroando-lhe a fronte. Recorro a seu estro de além-túmulo para que me responda a seguinte indagação. O que impulsionou Sapucaiense, Ipiranga de Sarandi e Ypiranga-Ere a entrarem contra o Lobão no Tribunal de Justiça Desportiva (TJD) da FGF? Alegam que o time pelotense teria escalado quatro jogadores de série A, quando, na verdade, apenas três poderiam jogar, de acordo com o regulamento da segundona gaúcha. Na verdade foram escalados, realmente, três jogadores, já que Axel, a razão da pantomima, é egresso de um time paulista da série A2, portanto, reconhecidamente divisão não especial. O cronista, em vida, sorriria tragicamente e, quase num sussurro, diria: coisa de viúvas desesperadas. É isso ai. Os dirigentes dos respectivos (e perdedores) times choram o marido perdido, ou melhor, os pontos perdidos em campo, e bem perdidos, aliás. Derramam ignóbeis lágrimas, filhas do oportunismo mais abjeto. Jogam-se, presa do desespero, sobre a urna funerária, aos coleios, rasgando roupas, arrancando cabelos, protagonizando fantástica apresentação de ópera bufa. Que patético. Têm pessoas cuja vocação para a comédia é inerente à pele. Fazem de tudo para se fazer notar, ainda que o palco seja o chiqueiro de suínos. Os dirigentes dessas equipes, unidos pela desesperada viuvez, deveriam dedicar-se, respeitosamente, a um exercício de contrição, reconhecendo a pequeneza da iniciativa, e, sobretudo, dar valor ao time que, em campo, soube impor-se, ganhando legitimamente os pontos disputados. Mas não. Em vez do cavalheirismo, optaram pelo choro, pela lamentação de opereta. Ah, pobres viúvas e suas lágrimas de crocodilo!
Manoel Soares Magalhães.