Senhores, não arranquem os cabelos. Eu também não vou arrancar os poucos que a natureza, por complacência, deixou-me na cabeça. Em vez de chorarmos os dois pontos perdidos, convém comemorarmos o ponto ganho. Evidentemente que ganhar é fundamental, notadamente em casa. Mas, diante de um time chato, pegador como o Sapucaiense, líder como o Pelotas, o empate em 0 a 0 na altura do campeonato não é de todo ruim. Aliás, temos de comemorar, sim, embora os resultados obtidos pelo Lobão nos últimos jogos tenham sido ruins. Internacional de Santa Maria e Santo Ângelo, que pleiteiam também o acesso à Primeira Divisão, na última rodada também tropeçaram feio. Santo Ângelo contra o Bagé e o Internacional contra o Vovô, que, até aqui, tem sido um padrinho na medida certa. Os contratempos impostos a esses dois times, até poucos dias atrás sérios candidatos ao acesso, prova a dureza da competição. Não tem partida fácil, não. À medida que os jogos se afunilam, a disputa se torna mais acirrada. Quem tiver bala na agulha, sobe. Continuo apostando no Lobão, malgrado o declínio de produção, e também no êxito do Sapucaiense, melhor sucedido até aqui. Quanto ao jogo de domingo, eu diria que teve requintes de drama grego. Desde os primeiros instantes o time de Sapucaia mostrou-se determinado, avisando o adversário que não viera à cidade para pular amarelinha. E, de fato, o prognóstico se confirmou. Foi um deus-no-acuda, ainda que o primeiro lance de perigo tenha sido do Pelotas, numa fraca cabeçada de Gasolina à meta defendida por Eliandro. A partir daí o que se viu foi sucessivos ataques do Sapucaiense, inclusive com uma bola no travessão, cabeçada de Marcos Sapucaia, deixando Cássio vendido no lance. A torcida – que foi ao estádio dar o seu apoio ao Lobão, se agitava na arquibancada, entre suspiros e taquicardias constantes, aguardando uma jogada inspirada do time que resultasse em gol. Preá, que se desconfiava não entrara em campo, fez uma boa jogada aos 29 minutos, deixando Michel em condições de marcar. O arremate, entretanto, foi para fora, jogando um balde de água fria no entusiasmo da torcida. No segundo tempo (ou segundo ato da tragédia?), o panorama da partida não se alterou.
O Sapucaiense, utilizando-se do contra-ataque, levaria perigo ao patrimônio do Pelotas aos 6 minutos. O elétrico Gilian bateu três adversários, ajeitando a bola de calcanhar para Tiago Fernandes, que mandou um canudo em direção à meta de Cássio, impondo-lhe inacreditável defesa. Um arrepio de horror percorreu a basbaque torcida azul e ouro, acuada na arquibancada. Aos 12 minutos, porém, estava reservado ao torcedor do Lobão o ápice do drama. Num chute cruzado de Brida, Jilian, de carrinho, fez a bola passar raspando poste direito de Cássio, arrancando agônicos gritos do torcedor, cujo coração ameaçava sair pela boca. O Lobão, acossado pelo grito de guerra do torcedor, atirou-se ao ataque. Os zagueiros do Sapucaiense, entretanto, bem postados, desmanchavam um a um os assédios dos atacantes Preá e Michel, que tinham fôlego mas nenhuma inspiração. Preá, aos 22 minutos, cabeceou a bola por cima do travessão de Eliandro, frustrando ainda mais o torcedor, que viu neste lance a única e real ameaça ao goleiro adversário durante todo o segundo tempo. Nem as modificações que o técnico Agnaldo Liz introduziu (Bruno Siqueira no lugar de Vicente e Douglas no lugar de Goiano), surtiram efeito. O jogo arrastou-se até o final com o adversário impondo perigo nos contra-ataques. O aspecto positivo do Lobão no malogrado jogo foi a disposição de Thiesen à frente da zaga, que andou batendo cabeça Quando tinha de defender, defendia. Nos momentos de sair para o jogo, o fazia com força e energia, sempre achando um companheiro em melhores condições. Por fim, o time ressentiu-se da falta do maragato Rudi, que dá solidez à zaga e, sobretudo, é voz de comando no grupo, e da ausência do experiente Flávio Dias, o qual, ainda que não esteja em seu melhor momento, impõe respeito a qualquer zagueiro. Contra o Ypiranga de Erechim, porém, eles estarão em campo, quem sabe para ajudar o Lobão a construir uma vitória fora de casa, distanciando-o um pouco mais dos adversários mais próximos. É o que todos nós esperamos.
Manoel Soares Magalhães.