sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Jorge Preá, o predestinado.

Existem pessoas predestinadas. Ainda que se não veja existe em suas frontes o invisível selo da predestinação. Penso que Jorge Preá, que engordou seu farnel de gols na primeira fase da segundona, é uma dessas pessoas. Anda afastado da artilharia por esotéricas forças, ressentindo-se da lesão. Por causa disso, imagino que em sua mente habite pensamentos funestos, sombrios, que o enfraquecem física e psicologicamente. Em campo, para a sua e nossa frustração, a bola escapa de seu domínio, mais elétrica e revolucionária que nunca, zombando de sua expectativa. Imagina-a cândida, mansa, para que possa, num mínimo lapso de tempo, enfiá-la por entre as pernas dos aturdidos beques e, com exaltação, fazê-la aninhar-se nas redes. Ele sonha com isso. Desespera-se. Repete inúmeras vezes o nervoso e compulsivo sinal da cruz, agradecendo graças que, sabe-se lá por que, o Criador não concede. Seu radioso sorriso, que nos contagiou desde o início, anda apagado como sol de inverno. Porém, como disse acima, considero-o um predestinado. Por esta razão, encaro a expulsão de Flávio Dias, no domingo passado, ainda que injusta, uma artimanha do destino, que deseja vê-lo entre os guerreiros na decisão de sábado. Almeja, em sua máxima imponderabilidade, restituir-lhe o sorriso, a alegria, e por tabela, devolver-nos a felicidade. Portanto, sábado, Jorge Preá, o predestinado, entrará em campo para estufar as redes do Internacional de Santa Maria, para fazer a sua... A nossa alegria!
Manoel Soares Magalhães.

Ainda não perdemos a guerra.

Senhores, a realidade é gritante. O pior adversário do Pelotas, no returno do octogonal, foi ele próprio. Sim, perdeu escandalosamente para si mesmo. Começou com o tiro no próprio pé, ao ser derrotado pelo lanterna da competição, o Ipiranga de Sarandi, talvez no mais medíocre jogo do ano. Na partida seguinte, empate com o Sapucaiense, em casa, resultado que fez o torcedor roer as próprias vísceras. Na seqüência, derrota para o Ypiranga de Erechim, fora de casa, por 2 a 0. Ganhou fôlego vencendo o Rio Grande por 2 a 0, reanimando as esperanças do torcedor. Mas, tornou a tropeçar contra o Grêmio Bagé, num amargo 0 a 0, diante de mais de mil fanáticos áureo-cerúleos que invadiram a Rainha da Fronteira. E, no último sábado, para desespero da “nação” azul e ouro, empatou em 2 a 2 com o Santo Ângelo, em casa, num jogo que merecia constar nas páginas de Shakespeare. Assim, em 18 pontos disputados, o Lobão contabilizou 6... Seis minguados pontos. Para a sua sorte, o nível da competição é medíocre, pois, embora sem pontuar, mantém-se líder. Portanto, com ou sem mérito, o fato é que o Pelotas tem chance de chegar à Primeira Divisão, sim! Assim sendo, listar nomes para que sejam crucificados em praça pública é, no mínimo, grandessíssima burrice. É hora de mobilizar direção, jogadores e torcedores para o jogo do final de semana contra o Internacional de Santa Maria. Ainda que o empate, mercê de resultados combinados, sirva para deixar o Lobão na Primeira Divisão, o objetivo maior, inegavelmente, é a vitória. Apesar da fraca campanha, ganhar do “coloradinho” em seus domínios não é tarefa impossível. Aliás, nesta temporada, os times que jogam em casa, com poucas exceções, têm tropeçado feio. Logo, não seria nenhuma novidade uma trapalhada do Internacional diante de seu torcedor que, certamente, se fará presente ao estádio em grande número, impondo pressão ao adversário. Para que esse “milagre” aconteça, o Pelotas tem de entrar em campo focado no jogo, consciente de que não existe bola perdida ou lance impossível. Mais que nunca, também, precisará contar com a sorte que se tem mostrado fiel companheira ao longo do campeonato. Assim sendo, o “montinho” artilheiro, “vilão” dos goleiros, também o beneficiará, bem como o gol “metafísico”, que desafia a genialidade de matemáticos e físicos. Para que tudo isso seja realidade, os “guerreiros” áureo-cerúleos têm de entrar em campo ungidos pelos deuses do futebol, que elegem quem merece a benção. Pelo andar da carruagem, acredito que o Pelotas merece esta sorte. Concluindo; acho prematuro jogarmos a toalha no instante capital da competição. Mais que nunca o torcedor tem de materializar a paixão que tem por seu clube, o qual perdeu algumas batalhas, mas ainda não perdeu a guerra.
Manoel Soares Magalhães.

Uma tarde para ser esquecida.

Sábado à tarde, na Boca, no empate frustrante em 2 a 2 com o Santo Ângelo, mais de cinco mil torcedores experimentou na pele a tessitura fria, incômoda, de uma tragédia grega, deixando-o tão curvado a ponto de deixar o estádio arrastando o nariz no chão, vendo o sonho da Primeira Divisão se esvair meio as negras nuvens que cobriam o estádio. A entrada do time em campo foi apoteótica. O grito “vamos subir Lobo” se misturava ao espocar de foguetes, dando indício de que a festa, realmente, seria completa do início ao fim do jogo. Jogo, aliás, que começou eletrizante. Por duas vezes consecutivas o Santo Ângelo ameaçou o gol de Cássio. Graças à incompetência de Pavão e Locateli os gols não foram convertidos. Aos 19min do primeiro tempo, numa cobrança de escanteio, o zagueiro Adilson Lima apareceu entre os beques adversários e, numa cabeçada fulminante, enfiou a bola nas redes. Decretava-se, pois, a abertura do placar favorável ao Lobão, levando o torcedor ao céu. O “Santo”, entretanto, estava vivo no jogo, ensaiando seus milagres, que aconteceu aos 9min do segundo tempo, também numa cobrança de escanteio. Quito, disposto a estragar a festa áureo-cerúlea, desviou a bola em direção à meta de Cássio, que nada pode fazer. 1 a 1 no placar. O gol caiu sobre o estádio como uma chuva fria é ácida. Aos 11min, porém, em rápida jogada de Douglas pela direita, penalidade máxima a favor do Pelotas, levando o torcedor, outra vez, a experimentar inenarrável exaltação. Goiano põe a bola na risca do pênalti, e se afasta um pouco, mãos à cintura. A torcida pula na arquibancada, ensaiando o grito de gol. Ele correu para a bola e chutou. Goleiro para um lado, bola para o outro. 2 a 1. Festa na Boca. Os gritos que ganharam os ares viraram chuva de mel. Entretanto, o pior estava reservado ao Pelotas. Num desentendimento entre Flávio Dias e Airton, do Santo Ângelo, ambos foram expulsos. O Lobão, ressentindo-se da falta de um atacante, cedeu terreno ao adversário, que se mandou para o ataque, dando susto atrás de susto à zaga áureo-cerúlea, que se defendia com chutões para cima, para os lados. Morto em campo, Goiano saiu, entrando em seu lugar Antonio Carlos. A troca não surtiu muito efeito, embora o atleta tenha se esforçado muito defendendo e, quando dava, tentando contra-ataques. Para reforçar o ataque, Agnaldo Liz sacou do time Michel, que se arrastava em campo, colocando Jorge Preá, esperança de gol para o time azul e ouro, que se deixava atacar vivamente, levando o torcedor a loucura. Ai, num lance infeliz de Cássio, numa saída de bola, lançou-a nos pés de Evandro Brito, o qual, experiente, deixou Marcinho Galvão em condições de fuzilar Cássio. 2 a 2. Gol paralisante, que nos enfiou no pior dos pesadelos. Glacial frio percorreu as arquibancadas da Boca, petrificando a torcida. Perplexidade em todos os rostos. Pela primeira vez este ano a torcida “Unidos por uma paixão” titubeou, vozes enfraquecidas... Olhares agônicos... Agia como se tivesse recebido um cruzado forte no queixo, levando-a a lona. O Lobão, desesperado, tentou reagir no jogo, mas a sorte estava decretada. O trágico empate seria o resultado final. Em tarde que tinha tudo para ser de festa, acabou em lágrimas e lamentações. Uma tarde para ser esquecida. Resta-nos, agora, o jogo contra o Internacional de Santa Maria. Deixemos, entretanto, este assunto para outra crônica.
Manoel Soares Magalhães.

Festa ou lágrimas de esguicho.

Em futebol, geralmente, a regra é a seguinte: matar ou morrer. Tratando-se de jogo decisivo o matar ou morrer assume proporções épicas. Em caso de morte, digna será a lembrança da bravura dos jogadores que derramaram a última gota de suor e sangue em busca da vitória. Neste caso, como disse Nelson Rodrigues, o meio fio da calçada será nosso consolo, onde vamos chorar lágrimas de esguicho na maior dignidade. Vencendo a batalha, sobrevêm os louros da vitória, oportunidade em que os guerreiros são apupados como heróis, conquistando na nossa memória, em definitivo, especial nicho. É o que esperamos do Lobão, sábado, às 15hs, frente ao Santo Ângelo, quando o destino do Clube estará sendo jogado. Os onze guerreiros escalados pelo técnico Agnaldo Liz estão convictos de que vencerão a partida, cobrando muito caro empate ou derrota. A torcida, por sua vez, que se tem mostrado forte e entusiasmada, fará sua parte cantando num coro de quiçá 10 mil vozes “vamos subir Lobo”, empurrando o áureo-cerúleo à vitória mais esperada do ano. Time e torcida, fortemente unidos, engendrando forte energia, não permitirão que o Santo pense em fazer algum milagre na Boca, frustrando nossas mais caras expectativas. O Lobão tem de olhar para o adversário como se fosse, na verdade, a avó do Chapeuzinho Vermelho, e degluti-lo com vontade, não deixando sequer um ossinho de lembrança. Desde os primeiros instantes da partida, da zaga ao ataque, os “farrapos da Boca do Lobo” têm de estar sintonizados, aproveitando-se da chance que se apresentar. Aliás, ainda que o desenho da partida seja o de um jogo aberto, pois os dois clubes precisam pontuar, penso que o ferrolho, do lado do Santo Ângelo, vai prevalecer, optando pela tática do contra-ataque, almejando surpreender o Lobo que, como não pode ser diferente, jogar-se-á à frente com ímpeto de um cruzado. Quanto ao zagueiro Rudi, nosso “maragato”, um dos mais experientes do grupo – na companhia do “milagreiro” Cássio, Axel e Goiano – tem a necessidade de passar aos companheiros a fibra de um autêntico gaúcho que não teme o inimigo. Jogador avesso ao futebol “bailarino”, mas que na hora do “pega pra capar” não mede esforços no sentido de chutar inclusive a bola em direção à lua se necessário for. O zagueiro Adilson, que nos últimos jogos tem estado a seu lado, não obstante uma ou outra vacilada, parece ter assimilado a forma de jogar do “maragato” Rudi. Na frente da zaga, a força e a determinação de Gasolina ou Thiesen. No meio de campo, apostamos no talento do “príncipe etíope”, o qual, às vezes, parece dormir, mas que de súbito é bafejado pelos deuses do futebol, jogando com estilo, desnorteando o adversário, não raro culminando com gol. Jogamos nossas fichas também em Axel, que nos últimas apresentações tem brilhado, tendo à mão a batuta de um imaginativo maestro, ditando o ritmo do jogo. E na frente, território dos “matadores” Flávio Dias e Michel, o “ungido” – e Jorge Preá, caso seja escalado ou entre no segundo tempo – ansiamos que entrem em campo imbuídos de fundamentalista fé, com ganas de enfiar a bola nas redes mais de uma vez. Enfim, é do nosso desejo que o time inteiro jogue um futebol capaz de fazer tremer o Santo Ângelo, construindo uma maiúscula vitória, chegando por fim à elite do futebol gaúcho. Depois... Ah! Depois é fazer a festa na Bento Gonçalves. Na pior das hipóteses, restar-nos-á o choro de esguicho no meio fio da calçada, esperando o decisivo jogo contra o Internacional de Santa Maria, no próximo domingo.
Manoel Soares Magalhães.

Haja coração.

Domingo à tarde, na Pedra Moura, em Bagé, no 0 x 0 com o time da Rainha da Fronteira, o Lobão jogou em casa. Não, não estávamos na “terra dos generais”, e sim na Boca do Lobo. O time, entretanto, não entendeu que o acanhado estádio jalde-negro fora tomada de assalto pela massa áureo-cerúlea. Jogou como se tivesse jogando fora de casa. Cerca de seis ônibus, juntando-se a eles carros particulares, conduzindo animados torcedores, em torno de mil vozes afinadas gritando “vamos subir Lobo”, tentavam provar que o Pelotas estava em seu domínio... Um domínio de metáfora, mas ainda assim domínio. Os comandados de Agnaldo Liz, porém, malgrados ouvissem o grito da arquibancada, não correspondiam em campo. O jogo começou com o Bagé pressionando, levando perigo à meta de Cássio, cuja estrela brilhou mais que Vênus. Leandro Guerreiro, carrancudo atacante do Grêmio Bagé, parecia um touro indomável à pequena área do Lobão. Rudi e Adilson Lima suaram pregos para segurá-lo. No lugar de Gasolina, que saiu contundido, o volante Thiesen, competente como sempre, teve igualmente muito trabalho para segurar o ataque do Bagé. O Pelotas ambém ameaçou Roger, num chute forte de Goiano, que foi à rede, só que pelo lado de fora, arrancando mal-sucedido grito de gol da garganta do torcedor. No segundo tempo, o Bagé voltou como estava, decidido a estragar a festa áureo-cerúlea. O time pelotense, porém, melhor organizado, deu a entender ao jalde-negro que a história poderia não ser bem esta. Numa tarde inspirada, Axel foi o homem do jogo no meio-campo do Pelotas, conduzindo a reação azul e ouro, que, se quisesse ganhar, tinha de ser mais impetuoso. Goiano, que de repente mostrou-se “vivo”, numa cobrança de falta, fez o arqueiro Roger espichar-se todo, espalmando para fora. Logo a seguir, Chocolate, que entrara no lugar de Cleiton, em bola que sobrara à sua feição, chutou para outra grande defesa de Roger. Aos 46min, Jorge, substituindo Michel, que deixara o campo cansado, escapou pela ponta, mas, na hora de cruzar para Flávio Dias sozinho na área, a bola foi, caprichosamente, para fora, na última estocada do Lobo da Avenida Bento Gonçalves, que, sábado, às 15hs, contra o Santo Ângelo, combinado com um resultado favorável (empate ou derrota do Internacional de Santa Maria no jogo contra o Ipiranga de Sarandi), pode fazer a festa. Caso contrário, fica tudo para ser decidido no último jogo. Haja coração!
Manoel Soares Magalhães.

Momento de transcendência.

A festa que a torcida do Lobão fez após os 2 x 0 sobre o Vovô, quinta feira à noite, merece crônica a parte. Torcedor, aliás, que em muitas campanhas negativas do áureo-cerúleo, abandonou o campo disposto a desferir dentada no primeiro poste que encontrasse pela frente, tamanha era a raiva que se lhe entorpecia a alma, deixando-a em frangalhos. Torcedor ansioso por um time pegador, guerreiro, que de tanto correr e batalhar deixasse no gramado férteis gotas de suor. Ontem, porém, as coisas funcionaram. O time, unido pelo desejo da vitória, orvalhou o gramado da Boca do Lobo com seu esforço. Desde início do jogo, gargantas se escancararam em cânticos de guerra, empurrando os jogadores à vitória. O grito de “vamos subir Lobo” ecoou dentro da noite pelotense, provocando a transcendência de nossas sofridas almas. Após o fim do jogo, os torcedores seguiram em passeata pela Gonçalves Chaves, entrando na Avenida Bento Gonçalves. Imensa centopéia vibrando seus múltiplos corações, entregue a mais bela e entusiasta ópera já cantada nas imediações da Boca. Evidentemente que não resisti àquele apelo de felicidade. Misturei-me à torcida, também gritando, cantando, deixando-me invadir por rara sensação de vitalidade, que fazia o sangue regurgitar nas veias. Imaginei o instante em que, certamente, iremos comemorar a chegada à Divisão Especial. A Avenida Bento Gonçalves será pequena para abrigar a nação áureo-cerúlea, que em cortejo a percorrera não uma, mas várias vezes, sob o som de cânticos e buzinas de carros. Um merecido carnaval fora de época, comemorando com a presença dos jogadores sobre o caminhão do Corpo de Bombeiros. Mas para isso precisamos ir a Bagé, domingo, e, em campo, mostrar a mesma determinação de quinta-feira à noite. O décimo segundo torcedor, agora, mais que nunca tem de estar ao lado do time. Portanto, domingo, através de imenso arco-íris unindo Bagé e Pelotas, predominando o azul e ouro, chegaremos à Rainha da Fronteira para empurrar o Lobão para mais uma vitória.
Manoel Soares Magalhães.

A noite dos garçons.

O Lobão reencontrou ontem à noite seu melhor futebol, vencendo o Rio Grande, o Vovô, por 2 x 0 sob o embalo de sua entusiasmada torcida, deixando-o ainda mais perto da Primeira Divisão. Desde os primeiros instantes da partida, o áureo-cerúleo mostrou-se centrado, pegador, decidido realmente a superar a má fase, provando que a sacudida do vestiário, protagonizada pelos homens fortes do Pelotas (César Sampaio, Aleixo e Gastaud), funcionou. Embora empreendesse pressão ao Rio Grande, a primeira chance de gol foi aparecer só aos 17 min. Numa jogada ensaiada, Axel deu uma bola com açúcar a Michel, que cruzou encontrando Flávio Dias na pequena área. Ele cabeceou forte, mas o goleiro Jonatas, bem colocado, evitou o que seria o primeiro gol do Lobão. Em outra oportunidade, aos 21 min, Goiano, cobrando falta, chutou firme. A bola bateu na barreira e, temperamental como diva de ópera, foi beijar o travessão, arrancando gritos agônicos da torcida. O Vovô, por sua vez, brandindo sua bengala, levava perigo à baliza de Cássio. Aos 44 minutos, o endiabrado Bruno Siqueira tabelou com Flávio Dias, deixando rastro de mel na pequena área. A bola, entretanto, àquele minuto, disse não às pretensões de Bruninho, saindo para fora. Encerrava-se, pois, um primeiro tempo de arrepiar as mais duras couraças. Veio o segundo tempo e a adrenalina, dentro e fora do campo, atingiu picos elevados. Nem bem havia transcorridos 5 min, Goiano deu ao lateral direito Cleiton uma bola convenientemente enfeitada sob uma bandeja. O arremate forte foi pela linha de fundo, arrepiando ainda mais a arquibancada, que, entendendo o grande momento do time, aumentou o grito de guerra. A noite foi realmente dos garçons. Michel serviu uma bola com gosto de goiabada cascão a Goiano, que, de virada, mandou por cima do travessão, fazendo a torcida sonhar com uma bola recheada de confeitos enfiada nas redes. Aos 11 minutos, o sonolento príncipe etíope de outras jornadas, em lançamento de antologia, deixou o atacante Michel cara a cara com o arqueiro do Vovô, o qual, em segundos, soube que a bola, que traçara volutas na azulada noite da Boca do Lobo, teria só um destino: as redes. E foi o que aconteceu. Num instante de rara beleza plástica, Michel cobriu o atônito Jonatas, enfiando a bola em seu destino: o fundo da baliza. Estava decretada a abertura do placar. A vibração estourou na arquibancada como há muito tempo não se via. Michel, batendo a mão no peito, sob o coração, correu pelo campo sorriso pingando mel. Imediatamente Agnaldo Liz fez entrar Antonio Carlos e Thiesen, para dar mais consistência à bastilha áureo-cerúlea. Em contra-ataques, o Pelotas ameaçava o patrimônio do Vovô, que, realmente, perdera os óculos. Através de Flávio Dias, o Lobão teve duas oportunidades de ampliar o placar. O destino, porém, complacente com o atacante, disse: faz teu gol, Flávio. E ele fez. Aos 47 minutos, recebeu uma bola cheia de afagos dos pés de Jorge (que entrara para ganhar confiança). O goleiro Jonatas defendeu o primeiro chute, mas, no rebote, o matador fez o que um matador tem de fazer, matar. 2 x 0 no placar. Explodindo de entusiasmo, o atacante arrancou a camiseta e correu para o abraço. Logo em seguida o árbitro trinaria o apito, finalizando o jogo que deixou o Lobo da Avenida mais que nunca vivo na competição. Mas o espetáculo ainda não havia terminado, não. Flávio Dias e Jorge Preá, os matadores do Lobo, no alto da tela que divide a arquibancada do gramado, cantaram juntos com a torcida. O “vamos subir Lobo” invadiu a noite de quinta-feira, deixando-a ainda mais elétrica e vibrante. Depois, agradecidos pelo grito que nasceu da escancarada garganta da torcida azul e ouro, jogaram as respectivas camisetas aos torcedores, que as disputaram como troféus. Assim, pois, encerrara-se o embate entre Pelotas e Rio Grande. O tão sonhado triunfo virara realidade.
Manoel Soares Magalhães.

Um grande triunfo.

O Esporte Clube Pelotas esta tendo mais sorte que juízo nesta temporada. O resultado de 1 x 1 entre Internacional de Santa Maria e Santo Ângelo favoreceu mais uma vez o Lobão. Com duas vitórias (contando que Sapucaiense tire pontos do time de Santa Maria no próximo domingo), estamos na Primeira Divisão do ano que vem. Apenas dois jogos vitoriosos nos separam do objetivo maior. Portanto, hoje à noite não tem desculpa para jogadores, dirigentes e torcidas... A meta é ganhar – de meio a zero se for possível. Acompanho a segundona há muitos anos e confesso que ainda não havia visto um time contar tanto com a sorte como o Pelotas. Já transcorreram várias rodadas e o Lobão perdeu apenas uma posição. Deixou a liderança, ocupada agora pelo Sapucaiense, que a meu juízo já está na Primeirona, e se alojou na vice-liderança e ai ficou. É muita sorte. Sorte que, hoje, tem de se manifestar dentro de campo também, contando evidentemente com o esforço dos onze jogadores que forem para o jogo, tendo ainda nos ouvidos a palavra forte e determinante de César Sampaio e Aleixo, que pediram empenho dos atletas neste delicado momento da competição. O superintendente do Lobão, em entrevista à imprensa local, disse que o time tem de entrar voando em campo. É isso ai, rapazes... Voar e muito! Precisamos “atropelar” o Vovô. Asfixia-lo em seu campo sem que respire. Fazer da vida do time riograndino um verdadeiro inferno. Evidentemente que tem de haver preocupação de ordem tática, mas a vontade de ganhar precisa ser infinitamente maior. No primeiro lance do jogo precisamos arrancar os “óculos” do Vovô, deixando-o momentaneamente cego, sem norte, às apalpadelas pelo campo como uma barata tonta. O receio de bater em “velho” tem de ser esquecido, pois, se não haver competência, receberemos bengaladas doídas e fatais sobre os ombros, as quais podem nos jogar à lona. E o pior: fazer com que amarguemos mais um ano no abismo da Segunda Divisão. Quanto a nós torcedores, prometemos gritar mais que nunca, embalados pelo entusiasmo. A vitória do Lobão será nossa vitória. Seu triunfo nosso triunfo. Por falar em triunfo, o Vovô, desde que fora fundado há mais de cem anos, jamais perdera uma partida. No dia 24 de outubro de 1909, veio a Pelotas e perdeu para o Lobão. Fora, portanto, o primeiro triunfo áureo-cerúleo em seus domínios. O cenário esta montado para que, hoje à noite, após 98 anos, obtenhamos outro grande triunfo sobre o Vovô. Que ele nos perdoe, mas isso tem de ser feito.
Manoel Soares Magalhães.

Para não chorar depois.

Fui um dos últimos torcedores a deixar a Boca após o jogo contra o Sapucaiense. Havia ainda algumas pessoas por lá, olhando meio tontas para os lados, sem entender o quê havia ocorrido com o time, que jogo a jogo desanda assustadoramente. Desliguei o rádio e fiquei em silêncio, tentando entender o que levara aquele grupo de jogadores a tamanha falta de motivação. Os quero-queros, aliviados, tratavam de se acomodar em seu ninho após o jogo. Permaneci quieto, fitando-os em seu pequeno minifúndio. Vendo-os ali, solitários, aconchegados, lembrei-me do que eles representam no imaginário do pampa gaúcho. São sentinelas... Seu canto libertário ecoa pela vastidão verde, onde em cada centímetro, como flores do campo, habita a alma do gaúcho... Do gaúcho destemido, guerreiro... Aliás, falando em guerreiro... Onde foi parar a alma guerreira dos atletas do Esporte Clube Pelotas? Que houve com brio de homens que tinham por objetivo chegar à Primeira Divisão do Futebol Gaúcho, e, de repente, perderam o rumo? Hoje, não dignos de ouvir o canto do quero-quero que ressoa durante o jogo e, também, nas silenciosas noites da Boca do Lobo, insuflando a alma dos guerreiros de ontem, de hoje e de amanhã. Quem sabe um passeio pelo gramado, à noite, meio ao silêncio das arquibancadas, ouvindo este emblemático canto, eles não despertem outra vez o adormecido espírito guerreiro? Espírito que se adormeceu em algum canto da alma, a qual, bem sabemos, grita para ressuscitá-lo. Àqueles que apurarem bem os ouvidos, certamente ouvirão o som do choque de espadas, de cascos de cavalos escavando o chão... É o vento morno da quase primavera de 2007 trazendo do passado ruídos de batalhas sangrentas... Embates de gaúchos defendendo seus domínios, suas mulheres, sobretudo seus sonhos... Escancaradas gargantas de homens de brio, que não temem a morte, lutando até a última gota de sangue no sentido de coroar de êxito o sonho de todos. Sim, se andarem pelo gramado entregue ao silêncio, ouvirão vozes que se jogam do passado em direção ao presente, instando-os à luta. O canto do quero-quero far-se-á presente, dando à cena requintes de realidade. Gemidos e lamentos também serão audíveis... Mas para lembrar-lhes que a vontade de lutar tem de ser mantida até o fim. A grandeza de um estado (de um time) não se faz gratuitamente. O sangue e o suor derramados adubam a terra, tornando-a fértil. Nela, os sonhos florescerão. Sim, um passeio faz-se necessário pelo gramado à noite. As arquibancadas vazias e silenciosas como testemunhas, além, evidentemente, do distante cruzeiro do sul. Ouvir a própria alma encarcerada, gritando para libertar-se, é o combustível que esta fazendo falta aos atletas do Esporte Clube Pelotas neste momento. Deixem-na sair recendendo a sangue e lágrimas... E chorem se quiser. Para não chorar depois.
O quero-quero tem muito a nos
falar de coragem, bravura...
É disso que o Lobão tá precisando
agora...
Manoel Soares Magalhães.

Como Maria Antonieta?

Não acredito que o Lobão, com a derrota de domingo à tarde, 2 a 0 para o Ypiranga, esteja a caminho da UTI. Ainda depende só de suas forças para chegar à Primeira Divisão. Mas, para isso, precisa jogar. Necessita fazer o que não vem fazendo, enfiar a bola na rede. Por essa carência de gols, e por uma seqüência de péssimos resultados, a “guilhotina” anda rondando a Boca do Lobo, ameaçando decepar a cabeça do técnico Agnaldo Liz, o qual, segundo o torcedor, é o responsável direto pelo fraco desempenho do time até aqui, graças a escalações esquivocadas. Quanto ao jogo de Erechim, o Lobão não entrou em campo no primeiro tempo. Só o time adversário jogou, e se não fosse Cássio iríamos para o intervalo amargando derrota parcial. Senhores, que “salão” de baile se constituiu o meio do campo do Pelotas! Os jogadores dançaram mazurca, cancan, tango e, evidentemente, samba num estádio entregue às moscas. O Ypiranga, que não estava nem ai para o Pelotas ou para a falta de público, imprimiu sua forma de jogar, pressionando o time pelotense, que, apático, assistiu as investidas do adversário. Ainda no primeiro tempo, o técnico sacou Thiesen do time, enfiando Antonio Carlos, que, na primeira jogada, quase cometeu penalidade máxima no adversário. Aliás, até agora estou me indagando por que ele tirou do jogo uma das poucas peças que funcionavam na emperrada engrenagem azul e ouro? No segundo tempo, entretanto, o técnico minimizou a trapalhada, colocando Vagson no lugar de Bruninho e Chocolate rendendo Douglas. O time ficou mais pegador, enérgico, lançando-se ao ataque com alma, com vontade de vencer. As oportunidades, em razão disso, surgiram. Não uma, mas várias. Era a vez de o Lobão convidar o Ypiranga para “dançar”. Só que o time de Erechim não dançou. Fez mais. Tratou de jogar um balde de água fria na fervura áureo-cerúlea. Aos 30 e 42 minutos, quando o Lobo era todo pressão, Edílson faz dois gols... Gols que entraram na alma do torcedor como punhais, enegrecendo a tarde que começara festiva, pintada de azul e ouro. Uma derrota com gosto de segunda-feira antecipada. Com mais este revés, o Pelotas caiu para segundo lugar. Esta vivo na competição, mas precisa mostrar isso contra o Rio Grande, quarta-feira na Boca. E chegada à hora do time mostrar garra, vontade de vencer a qualquer custo. Os mais experientes, Cássio, Rudi e Rodrigo Gasolina, largando fogo pelas ventas, mais que nunca tem de chamar a responsabilidade para si, dando exemplo àqueles que, na altura do campeonato, ainda não entenderam que segundona é guerra. Se a cabeça de Agnaldo Liz não for separada do pescoço como a de Maria Antonieta, precisa mostrar serviço contra o Vovô, quarta-feira. Caso contrário, não tem salvação.
A sorte de Maria Antonieta não foi das melhores...
Sua cabeça rolou para o povão festejar.
A torcida do Lobo anda roendo as unhas, louca
para ver a cabeça de Agnaldo Liz separada do tronco.
Isso é justo? A história dirá.
Manoel Soares Magalhães.

No lado esquerdo do peito.

Esporte Clube Pelotas x Ypiranga de Erechim não é tão-só um jogo. Vai além disso, apostem. Trata-se de uma partida com ressonâncias épicas, onde a vontade de ganhar tem de prevalecer sobre tudo e sobre todos. Não foi sem vontade – e sobretudo coragem – que vencemos a barreira do tempo e deixamos para trás o selvagem que percorria solitárias savanas em busca de caça. Compreendemos que éramos mais que sangue e vísceras. Tínhamos espírito; nossos olhos se erguiam para o céu e o perscrutavam em busca de respostas que iam além do estômago. À medida que as perguntam eram formuladas, e as respostas, como raios iluminando a escuridão, iam-se aderindo à nossa experiência, dando-nos força e coragem para subverter a dureza do ambiente, íamos tendo a noção de que poderíamos chegar, se quiséssemos, muito longe. Se os atletas do Lobão, por um segundo antes de o árbitro trinar o apito dando início ao jogo, imaginarem-se solitários em uma savana, a fome e o medo a roer-lhes a mente e o estômago, certamente encontrarão forças dentro de si para conquistarem o objetivo maior, que é vencer o adversário, que, por sua vez, tem também motivações de vencer, malgrado o anseio de chegar onde desejava tenha-se diluído. Porém, irá jogar para ganhar porque tal desejo corre em suas veias. No caso do Pelotas, que ainda tem fortes pretensões de conquistar o Eldorado, que impulso seria mais forte que o de conquistar o objetivo, profunda e fortemente pensado ao longo da temporada? As espécies – inclusive as unicelulares – movidas pelo apelo da vida, vão muito além de suas forças, desafiando qualquer gênero de conceito que queira enfraquecer esta mágica de se fazer campeão da sobrevivência. Nas quatro linhas, 22 jogadores disputando a bola, refletem não só a magia do futebol, mas a disposição de se superarem em campo, reflexos que são do DESEJO de voar mais longe, além dos picos mais elevados. Senhores, o futebol é metáfora existencial. Que vença não o melhor, mas aquele que tiver queimando no peito a VONTADE de superação. É o que eu espero, domingo, que os atletas do Lobão tenham no lado esquerdo do peito.
Manoel Soares Magalhães.

No lado esquerdo do peito.

Esporte Clube Pelotas x Ypiranga de Erechim não é tão-só um jogo. Vai além disso, apostem. Trata-se de uma partida com ressonâncias épicas, onde a vontade de ganhar tem de prevalecer sobre tudo e sobre todos. Não foi sem vontade – e sobretudo coragem – que vencemos a barreira do tempo e deixamos para trás o selvagem que percorria solitárias savanas em busca de caça. Compreendemos que éramos mais que sangue e vísceras. Tínhamos espírito; nossos olhos se erguiam para o céu e o perscrutavam em busca de respostas que iam além do estômago. À medida que as perguntam eram formuladas, e as respostas, como raios iluminando a escuridão, iam-se aderindo à nossa experiência, dando-nos força e coragem para subverter a dureza do ambiente, íamos tendo a noção de que poderíamos chegar, se quiséssemos, muito longe. Se os atletas do Lobão, por um segundo antes de o árbitro trinar o apito dando início ao jogo, imaginarem-se solitários em uma savana, a fome e o medo a roer-lhes a mente e o estômago, certamente encontrarão forças dentro de si para conquistarem o objetivo maior, que é vencer o adversário, que, por sua vez, tem também motivações de vencer, malgrado o anseio de chegar onde desejava tenha-se diluído. Porém, irá jogar para ganhar porque tal desejo corre em suas veias. No caso do Pelotas, que ainda tem fortes pretensões de conquistar o Eldorado, que impulso seria mais forte que o de conquistar o objetivo, profunda e fortemente pensado ao longo da temporada? As espécies – inclusive as unicelulares – movidas pelo apelo da vida, vão muito além de suas forças, desafiando qualquer gênero de conceito que queira enfraquecer esta mágica de se fazer campeão da sobrevivência. Nas quatro linhas, 22 jogadores disputando a bola, refletem não só a magia do futebol, mas a disposição de se superarem em campo, reflexos que são do DESEJO de voar mais longe, além dos picos mais elevados. Senhores, o futebol é metáfora existencial. Que vença não o melhor, mas aquele que tiver queimando no peito a VONTADE de superação. É o que eu espero, domingo, que os atletas do Lobão tenham no lado esquerdo do peito.
Manoel Soares Magalhães.

Carta aberta ao goleiro Cássio.

Cássio, amigo... És goleiro titular do Esporte Clube Pelotas desde 2004. Ninguém põe em dúvida tua identificação com o Lobão. Sabemos do teu empenho ao longo destes últimos quatro anos no sentido de arrancar o Clube da incômoda segundona, que sabemos não é o seu lugar. Por isso, viemos através desta pedir-te que convoques teus companheiros para uma conversa. Chame-os a um canto para que te escutem atentamente, pois tua palavra é a manifestação da experiência ressoando no plantel. Neste momento delicado da competição, detectar a voz hábil, que sabe como poucos chegar à emoção dos colegas, é de fundamental importância. Além do mais, nos teus domínios de goleiro, a pequena e a grande área, divisas em detalhes a geometria, os atalhos, as veredas dos gramados a serem percorridos pelos teus companheiros na condução da bola. Que angústia deve ser estar ali parado, debaixo do arco, procurando dar sentido à mágica parábola de jogar futebol, procurando, no entrechoque de corpos, executar o quer a vontade, soberana, pensou. Penso que, às vezes, imaginas atalhos para que teus colegas, no afã de jogar, não pensaram. Não por falta de talento, mas por imperiosa necessidade de pensar rápido. Por isso, Cássio, se faz necessária à conversa. Eles te escutarão, tenho certeza disso, como o silêncio escuta a música. Seus ouvidos estarão atentos aos teus conselhos, às tuas palavras, às tuas sugestões. Um grande time começa por um grande goleiro. E o Lobão, tendo-o como arqueiro, torna-se um grande time. Tem demonstrado qualidades em campo, embora, às vezes, a convicção esmoreça, e, como sementes que caem em terra infértil, tendem a morrer. Por isso, amigo, tua palavra é importante. Chame-os à realidade. Convença-os de que são fortes e talentosos, e de que podem chegar, sim, ao objetivo traçado no início da temporada. Fragilizar-se é da condição humana. Porém, entusiasmar-se, pensar como campeões, também. Por isso, amigo, viemos através desta evocar tua vontade no sentido de falar-lhes estas verdades. Temos certeza absoluta de que eles te ouvirão, assim como ouvirão as batidas dos próprios corações entrando em sintonia com a mente, fazendo nascer em definitivo a vontade de vencer, de chegar a Primeira Divisão do Campeonato Gaúcho. Estamos contigo, Cássio. Acreditamos em ti, em tua capacidade de liderança. Nós, torcedores, que jogo a jogo sofremos e cantamos na arquibancada, empurrando o time à vitória, que, no frigir dos ovos, é conquista de todos nós áureo-cerúleos. Então, amigo... Podemos contar contigo? Na tradição primitiva e arcaica, ouvir o mais experiente é sábio... Sua voz, como o suave atrito do vento sobre a folhagem das árvores, chega à alma do ouvinte, instando-o a seguir o melhor caminho... O caminho da superação e da vitória... Um grande abraço.
Manoel Soares Magalhães.

Um ponto a ser comemorado.

Senhores, não arranquem os cabelos. Eu também não vou arrancar os poucos que a natureza, por complacência, deixou-me na cabeça. Em vez de chorarmos os dois pontos perdidos, convém comemorarmos o ponto ganho. Evidentemente que ganhar é fundamental, notadamente em casa. Mas, diante de um time chato, pegador como o Sapucaiense, líder como o Pelotas, o empate em 0 a 0 na altura do campeonato não é de todo ruim. Aliás, temos de comemorar, sim, embora os resultados obtidos pelo Lobão nos últimos jogos tenham sido ruins. Internacional de Santa Maria e Santo Ângelo, que pleiteiam também o acesso à Primeira Divisão, na última rodada também tropeçaram feio. Santo Ângelo contra o Bagé e o Internacional contra o Vovô, que, até aqui, tem sido um padrinho na medida certa. Os contratempos impostos a esses dois times, até poucos dias atrás sérios candidatos ao acesso, prova a dureza da competição. Não tem partida fácil, não. À medida que os jogos se afunilam, a disputa se torna mais acirrada. Quem tiver bala na agulha, sobe. Continuo apostando no Lobão, malgrado o declínio de produção, e também no êxito do Sapucaiense, melhor sucedido até aqui. Quanto ao jogo de domingo, eu diria que teve requintes de drama grego. Desde os primeiros instantes o time de Sapucaia mostrou-se determinado, avisando o adversário que não viera à cidade para pular amarelinha. E, de fato, o prognóstico se confirmou. Foi um deus-no-acuda, ainda que o primeiro lance de perigo tenha sido do Pelotas, numa fraca cabeçada de Gasolina à meta defendida por Eliandro. A partir daí o que se viu foi sucessivos ataques do Sapucaiense, inclusive com uma bola no travessão, cabeçada de Marcos Sapucaia, deixando Cássio vendido no lance. A torcida – que foi ao estádio dar o seu apoio ao Lobão, se agitava na arquibancada, entre suspiros e taquicardias constantes, aguardando uma jogada inspirada do time que resultasse em gol. Preá, que se desconfiava não entrara em campo, fez uma boa jogada aos 29 minutos, deixando Michel em condições de marcar. O arremate, entretanto, foi para fora, jogando um balde de água fria no entusiasmo da torcida. No segundo tempo (ou segundo ato da tragédia?), o panorama da partida não se alterou.
O Sapucaiense, utilizando-se do contra-ataque, levaria perigo ao patrimônio do Pelotas aos 6 minutos. O elétrico Gilian bateu três adversários, ajeitando a bola de calcanhar para Tiago Fernandes, que mandou um canudo em direção à meta de Cássio, impondo-lhe inacreditável defesa. Um arrepio de horror percorreu a basbaque torcida azul e ouro, acuada na arquibancada. Aos 12 minutos, porém, estava reservado ao torcedor do Lobão o ápice do drama. Num chute cruzado de Brida, Jilian, de carrinho, fez a bola passar raspando poste direito de Cássio, arrancando agônicos gritos do torcedor, cujo coração ameaçava sair pela boca. O Lobão, acossado pelo grito de guerra do torcedor, atirou-se ao ataque. Os zagueiros do Sapucaiense, entretanto, bem postados, desmanchavam um a um os assédios dos atacantes Preá e Michel, que tinham fôlego mas nenhuma inspiração. Preá, aos 22 minutos, cabeceou a bola por cima do travessão de Eliandro, frustrando ainda mais o torcedor, que viu neste lance a única e real ameaça ao goleiro adversário durante todo o segundo tempo. Nem as modificações que o técnico Agnaldo Liz introduziu (Bruno Siqueira no lugar de Vicente e Douglas no lugar de Goiano), surtiram efeito. O jogo arrastou-se até o final com o adversário impondo perigo nos contra-ataques. O aspecto positivo do Lobão no malogrado jogo foi a disposição de Thiesen à frente da zaga, que andou batendo cabeça Quando tinha de defender, defendia. Nos momentos de sair para o jogo, o fazia com força e energia, sempre achando um companheiro em melhores condições. Por fim, o time ressentiu-se da falta do maragato Rudi, que dá solidez à zaga e, sobretudo, é voz de comando no grupo, e da ausência do experiente Flávio Dias, o qual, ainda que não esteja em seu melhor momento, impõe respeito a qualquer zagueiro. Contra o Ypiranga de Erechim, porém, eles estarão em campo, quem sabe para ajudar o Lobão a construir uma vitória fora de casa, distanciando-o um pouco mais dos adversários mais próximos. É o que todos nós esperamos.
Manoel Soares Magalhães.

O capitão Nemo.

O destino nos manipula como se fossemos peças de xadrez, conduzindo-nos às sombras ou a luz. Quando o Pelotas mergulhou no pântano da segundona, mais de uma vez encontrei o presidente Aleixo na arquibancada da Gonçalves Chaves, sentado calmamente descascando amendoim. “Ganhamos hoje?” ele indagava vinco de preocupação cruzando-lhe a testa. “Acho que sim”, eu respondia animado. No fundo, porém, tanto ele quanto eu tínhamos poucas esperanças na recuperação do time, que jogo a jogo afundava cada vez mais. A sonhada virada estava longe de acontecer. A pá de cal sobre o Lobão ocorreu no jogo contra o São José de Porto Alegre, quando perdemos por 2 x 1. Estávamos lá, naquele fatídico domingo de 16 de maio de 2004. Eu na arquibancada e Aleixo longe dela, na parte diretiva do Clube, que assumira às pressas em abril, na malograda tentativa de arrancar o Clube do inferno anunciado. Decepção de um homem que, conhecedor das agruras da Segunda Divisão, tinha em seu currículo a proeza de já haver arrancado o áureo-cerúleo da condição de rebaixado, em 1980. Sim, Aleixo presidira o Clube naquela vitoriosa campanha, deixando o Lobo da Bento Gonçalves no lugar de onde jamais deveria ter saído. O destino, portanto, caprichoso e manipulador, vinte e três anos após o Clube ter se evadido da Segunda Divisão, em 1984, escolheu-o para ser o “comandante” da “nave” áureo-cerúlea que, hoje, singra mares tempestuosos em direção à elite do futebol gaúcho, em condição extremamente mais favorável. Coincidência? Duvido. O destino escolheu-o porquê tem carisma. O calmo e compenetrado Aleixo da arquibancada, dos bastidores; o capitão Nemo de tantas e vitoriosas campanhas, eleito para presidir o Clube neste importantíssimo momento de sua quase centenária história, é o melhor dos augúrios. “Ganhamos hoje?”, ele perguntaria comendo tranquilamente seu amendoim. “Vamos ganhar, presidente.”, eu responderia bastante animado. O destino quer. O destino pede.
Manoel Soares Magalhães.