Aprendi a gostar de cinema nos cinemas de bairro, os poeiras. Não perdia uma matiné do Cine Esmeralda, no Areal, fizesse sol ou chuva. O filme que me prendia na cadeira era o de bang-bang. A gurizada, de olhos vidrados, vertia saliva na iminência de um duelo entre bandido e mocinho. Durante as perseguições a cavalo, batíamos os pés no chão, levantando poeira até o teto, gritando ao mesmo tempo. O barulho era ensurdecedor. O jogo entre Sapucaiense e Pelotas, quinta-feira à tarde, com vitória do Lobão por 1 a 0, em Sapucaia do Sul, me arremessou a esse tempo fantástico. Que jogo. De bota e espora, tipicamente gaúcho. Desde os primeiros minutos da partida, o Sapucaiense pressionou o Lobão em seu campo, numa verdadeira blitz, deixando a torcida áureo-cerúlea de cabelo em pé. Agnaldo Liz, vendo muito bem o jogo, adiantou o time, equilibrando o “duelo”. O Santo Cássio, quando foi exigido, brilhou duas ou três vezes, realizando mágicas defesas. O jogo foi para o intervalo zero a zero. Em recente crônica, me referi à possibilidade de um gol metafísico, que deixasse o Lobão na frente do placar. O gol aconteceu, feito por Michel, aos três minutos do segundo tempo. Ele estufou a rede do goleiro Eliandro, decretando a abertura do placar. O feio pistoleiro de Sapucaia do Sul desabou de cara na areia, enquanto nós, torcedores, ouvindo rádio, batíamos os pés no chão, gritando gol. O Sapucaiense ensaiou uma reação, mas não logrou êxito porque o áureo-cerúleo esteve determinado no aspecto defensivo, obliterando qualquer tentativa do inimigo ficar vivo no jogo. Assim, a já inconveniente "toca" foi arrancada da cabeça do Lobo, o qual não conseguia vencer o Grêmio Sapucaiense em seus domínios. Portanto, esta vitória de ouro deixa o Lobão na ponta da tabela. Domingo, na Boca, é a vez do Ypiranga de Erechim dançar em nosso salão de honra. É hora de lotarmos a Boca, fazendo o maior “barulho”. Que de nossas gargantas escancaradas mane o maior, o mais fabuloso canto de sagração possível. A hora é agora!
Manoel Soares Magalhães.